quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ney Ortiz, 47 anos depois do golpe: "Jango ia mudar o Brasil" (por Osvaldo Maneschy)

MAPI organiza debate sobre o 47° aniversário do golpe militar de 1964




 
“Não me arrependo de nada do que fiz e se tivesse que fazer tudo de novo pelo Brasil e pelo Presidente João Goulart, eu faria”, afirmou o ex-deputado gaúcho Ney Ortiz Borges, 87 anos, vice-líder do Governo João Goulart no Congresso Nacional, cassado e perseguido pelo golpe militar de 1964, em palestra nesta sexta-feira (31/3) na sede nacional da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini, no Centro do Rio, promovida pelo Movimento de Aposentados, Pensionistas e Idosos do PDT (MAPI).  (Ney Ortiz (D) com Christopher Goulart (E), neto de Jango)
“Jango queria transformar as estruturas sociais do Brasil com as reformas de base, objetivo que perseguiu de todas as maneiras”, relatou Ortiz Borges, acrescentando que, a pedido dele,  viajou por todo o país -  pregando essas reformas.  Sobre o período conturbado disse ainda que se não tivesse ocorrido o golpe, hoje o Brasil já seria a maior potência do planeta.  “O golpe de 64 destruiu aquele projeto fantástico”, frisou.
HERANÇA
Emocionado, Ney Ortiz Borges passou às mãos de Maria José Latgé, presidente do MAPI, cópia de documento que lhe foi entregue pessoalmente, em 1964, pelo Presidente João Goulart, contendo uma síntese de 12 páginas do projeto das Reformas de Base, muito maior e extenso. Explicou que para ele é fundamental que “o projeto que pretendia passar o Brasil a limpo” seja conhecido pelas novas gerações. “Infelizmente não tivemos a alegria de implantá-las para melhorar a vida das pessoas porque veio o golpe, mas as reformas de base são atualíssimas e não podemos esquecê-las”, destacou.
Citou como exemplo a reforma agrária. “Jango, no Comício da Central, chegou a anunciar que desapropriara  as áreas contíguas às rodovias federais, dos dois lados, para assentar nelas trabalhadores rurais sem terra”, lembrou.
Ortiz Borges relatou que em 2001, a pedido do então presidente do PDT gaúcho, Matheus Schmidt, falecido ano passado, fez um levantamento de todas as realizações do Governo João Goulart.
Citou entre elas a criação da Eletrobrás, da Embratel; das usinas siderúrgicas Usiminas, Cosipa e Ferro e Aço de Vitória – que na sua opinião revolucionaram o setor; a criação das aposentadorias especiais para celetistas; a promulgação da Lei do 13° salário; o aperfeiçoamento da Lei da Remessa de Lucros; o fortalecimento da aplicação das Leis Trabalhistas de  Getúlio; e a mobilização nacional pelas reformas de base: a agrária, a urbana, a educacional, a fiscal, a bancária e a administrativa.  “O Governo de João Goulart caiu por causa disso”, garantiu.
Signatário da Carta de Lisboa de 1979, Ney Ortiz Borges participou do movimento para reorganizar PTB e depois o PDT, quando o TSE tirou a sigla de Brizola e a entregou a Yvete Vargas.  Ortiz Borges também passou às mãos de Maria José Latgé um papel amarelado pelo tempo contendo a lista dos componentes originais da 114ª. Zona Eleitoral de Porto Alegre, que organizou e presidiu a partir de 1981, que tinha na 11ª. posição, entre os fundadores, Dilma Roussef - atual presidente do Brasil.
Além do ex-parlamentar, o ato organizado pelo MAPI para recordar as lições que ficaram após os 47 anos do golpe militar, também contou com depoimentos de Trajano Ribeiro, primeiro palestrante;  Eduardo Chuahy, Capitão do Exército e oficial de Gabinete de Jango, na época; Eduardo Costa, ex-secretário de Saúde de Brizola, e líder da UNE em 1964; Leonel Brizola Neto, Vereador no Rio de Janeiro e o jornalista e escritor José Augusto Ribeiro, além do Vereador Jorge Mariola, de São Gonçalo, e do presidente da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini, seção Rio de janeiro .
Trajano Ribeiro, também signatário da Carta de Lisboa, como Ney Ortiz, fez um relato sobre os antecedentes e a movimentação política que levou a deflagração do golpe militar de 64, do ponto de vista histórico, e as suas conseqüências  e implicações – detendo-se na trajetória política de João Goulart, o herdeiro político de Getúlio Vargas, do início de sua carreira política até ser deposto e, posteriormente, ser vítima da Operação Condor segundo relato de um agente da repressão preso no Uruguai.  Segundo Trajano, Jango foi morto por ordem da CIA.
No episódio da morte de Jango, Eduardo Costa pediu a palavra e lembrou que João Vicente Goulart, que não pode acompanhar o sepultamento do pai em São Borja, por estar no exterior; uma semana depois, em Porto Alegre, quase foi vítima da repressão ao final da missa de 7° dia do pai, quando cavalarianos da Brigada Militar receberam ordens de dissolver a multidão que saía da missa e João Vicente, na época ainda criança, quase foi atropelado pelos cavalos.
João Vicente Goulart foi o grande ausente da reunião, por não ter tido condições de se deslocar de Brasília, onde vive atualmente, para o Rio de Janeiro.
O Vereador Leonel Brizola Neto (PDT), outro orador,  fez questão de assinalar que ouvindo Ney, Trajano Ribeiro,  Eduardo Costa e Chuahy sentia a importância e o peso histórico da legenda do PDT.  “Sinto-me honrado de estar aqui, participando de tudo isto, ouvindo essas pessoas darem os seus depoimentos e lamento que não tenha aqui ninguém da direção nacional. Acho que precisamos discutir os rumos do PDT porque precisamos, mais do que nunca, retomar o fio da História”, disse.
Leonel Brizola Neto disse que não poderia deixar de lembrar, naquela reunião, a história de seu outro avô, Carlos Daudt, pai de sua mãe Nereida, oficial da Força Aérea Brasileira que, servindo na base aérea de Canoas, no episódio da Legalidade, não atendeu à ordem dos golpistas de bombardear o Palácio Piratini, onde estava Brizola e por isso foi perseguido.
 “Meu avô, por sua atitude patriótica em 61, foi preso e torturado em 1964 e proibido de fazer o que mais gostava na vida, voar”. Brizola Neto lembrou também que o seu avô, de rígida formação militar, acabou morrendo de Alzheimer depois de uma vida dificil.  “Meu avô sofreu muito e lembro que ele nunca conseguiu externar com palavras as torturas que sofreu porque ficava muito emocionado e se calava”, relatou Brizola Neto.
Até por conta do peso histórico das pessoas que militam no PDT, acrescentou o Vereador, o PDT não pode ter lideranças burocráticas e tem que estar permanentemente voltado para as suas bases, a sua história e a sua militância.
“Estou na política por causa dessa história de lutas”, confessou Leonel Brizola Neto.
A reunião, que começou às cinco da tarde, só terminou às nove da noite após vários dos presentes se manifestarem. Entre os presentes estava o ex-deputado Feliciano Araújo, um dos fundadores da Ala Moça do antigo PTB, onde desempenhou o cargo de Secretário Geral, enquanto Ney Ortiz Borges ocupava a presidência.
No debate, entre outros pontos, foram discutidas políticas públicas para as áreas da educação,  de segurança pública e da Juventude. Chuay e Eduardo Costa fizeram relatos sobre as relações do Governo Goulart com os estudantes, repassando episódios ocorridos, falando do peso que as organizações estudantis tinham na época, no âmbito do governo central. A participação do PDT no governo de Sérgio Cabral também foi abordada, como também a questão da Educação em horário integral.
Antes do término da reunião, Maria José Latgé apresentou aos presentes o N° 1 das “Cartilhas Trabalhistas” editadas pelo Mapi, esta sobre o Governo João Goulart, editada pela Nitpress,  com texto do jornalista José Augusto Ribeiro e vendida a R$ 5,00; e anunciou para junho o lançamento da Cartilha ° 2, sobre Leonel Brizola

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O Instituto Superior de Estudos Brasileiros ou ISEB foi um órgão criado em 1955, vinculado ao Ministério de Educação e Cultura, dotado de autonomia administrativa, com liberdade de pesquisa, de opinião e de cátedra, destinado ao estudo, ao ensino e à divulgação das ciências sociais.
O ISEB funcionou como núcleo irradiador de ideias e tinha como objetivo principal a discussão em torno do desenvolvimentismo e, a princípio, a função de validar a ação do Estado, durante o governo de Juscelino Kubitschek.
Foi extinto após o golpe militar de 1964, e muitos de seus integrantes, os isebianos, foram exilados do Brasil.

Índice

Antecedentes e criação

O ISEB surge como um desdobramento reformulado e ampliado de duas organizações:
- a Liga de Emancipação Nacional, integrada, basicamente, por comunistas e que, em função de suas contundentes proposições nacionalistas, foi fechada pelo próprio Juscelino, assim que se tornou presidente da República;
- o Grupo Itatiaia, um grupo de estudos, criado em 1952, a partir da ampliação dos debates sobre a questão do petróleo e os rumos do desenvolvimento nacional. Reunia intelectuais dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, defensores de um nacionalismo menos radical que o da Liga e, em 1953, foi formalmente organizado sob o nome de Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (IBESP), passando a editar a revista Cadernos do Nosso Tempo.
Os debates eram centrados nos rumos a serem tomados pelo desenvolvimento nacional, e na construção de uma ideologia do desenvolvimento, que pudesse por sua vez orientar a burguesia na condução do processo de transformação e desenvolvimento econômico, social e cultural do Brasil.
Em substituição ao IBESP, foi criado, em 1955, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), pelo decreto nº 37.608 de 14 de julho do então presidente Café Filho.
Em alguns momentos, o ISEB adota um discurso moderadamente socialista, o que não poderia ser de outro modo, visto que seus integrantes, com exceção de Álvaro Vieira Pinto e Wanderley Guilherme dos Santos, não viam qualquer possibilidade de construção imediata do socialismo no Brasil, sempre apontando para a necessidade do desenvolvimento e da industrialização como vias para a diminuição das contradições sociais.

O ISEB e o governo JK

Desde a queda do Estado Novo, em 1945, e a ascensão do populismo – que permeou os governos que se sucederam até 1964 -, a sociedade brasileira havia mudado substancialmente, tornando-se mais complexa e diversificada.
O processo de industrialização do país e o crescimento da população urbana, somados ao avanço da legislação trabalhista, ao fortalecimento dos sindicatos, dos partidos políticos e dos movimentos sociais, favoreceram a mobilização e radicalização em torno de propostas nacionalistas, anti-imperialistas, e das chamadas reformas de base, tais como da reforma agrária.
Iniciando suas atividades no momento em que Juscelino Kubitschek assumia a presidência da República (1956-1961), o ISEB elaborou uma ideologia nacional-desenvolvimentista. A tese central do nacionalismo desenvolvimentista é a de que a promoção do desenvolvimento econômico e a consolidação da nacionalidade constituem dois aspectos do mesmo processo emancipatório. O desenvolvimento dependeria, assim, de uma consciência nacional mobilizada em torno de um de uma vontade - plano global - de desenvolvimento.
Apesar de muitas de suas formulações do ISEB caminharem na contramão da internacionalização da economia promovida por JK, importantes membros do Instituto apoiaram essa estratégia. Em 1958, no entanto, uma crise interna dividiu o instituto. O grupo liderado por Hélio Jaguaribe opôs-se à corrente da qual faziam parte Roland Corbisier e Alberto Guerreiro Ramos, favorável a uma ação menos acadêmica e mais engajada, e acabou deixando o instituto.
Na esfera cultural, a retórica do início dos anos 1960, tanto de direita como de esquerda foi marcada pelo uso corrente das categorias povo e nação - ou nacional e popular. Os movimentos de esquerda - como no caso emblemático do Centro Popular de Cultura -, além do discurso anti-imperialista adotaram também uma postura vanguardista, baseada na premissa de que a "autêntica" cultura popular revolucionária é aquela produzida por artistas e intelectuais que "optaram por ser povo" - enquanto a cultura do povo era considerada arcaica e atrasada.[1] A coleção Cadernos Brasileiros e a Revista Civilização Brasileira, editadas por Ênio Silveira, e a História Nova, organizada por Nelson Werneck Sodré, sugerem a intensa colaboração entre o ISEB e o CPC.

Fim do ISEB

Três dias após o Golpe militar de 31 de março de 1964, foi decretada a extinção do ISEB e, em seguida, instaurado um inquérito policial-militar (IPM) para apurar suas atividades. Diretores e professores do Instituto foram investigados.

Membros

Entre os membros ilustres podemos citar Miguel Reale e Sérgio Buarque de Hollanda. A maioria dos membros do Iseb era formada por pensadores nacionalistas, influenciados pelas ideias da Cepal, entre eles Hélio Jaguaribe, Roland Corbisier, Alberto Guerreiro Ramos, Nelson Werneck Sodré, Antonio Cândido, Cândido Mendes, Ignácio Rangel e Álvaro Vieira Pinto, Carlos Estevam Martins, entre muitos outros.
Teve também como colaboradores Celso Furtado, Gilberto Freyre e Heitor Villa Lobos.
Entre seus alunos mais famosos, inclui-se Abdias Nascimento.

Referências

Ferramentas pessoais
Espaços nominais
Variantes
Ações