sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A nova ameaça golpista do burguês fidalgo - Postada por Luiz Carlos Nogueira

29/10/2009 - 01h41

“A mentalidade reacionária, que financiou os crimes hediondos perpetrados pelos ainda impunes facínoras da Operação Bandeirantes, continua vívida e predominante nas entranhas da nata econômico-financeira da sociedade brasileira”

Osvaldo Martins Rizzo *

“A sociedade é composta de duas classes: os que têm mais jantares do que apetite e os que têm mais apetite que jantares”
(Sébastien-Roch Chamfort, século XVIII)

A democracia brasileira sempre esteve ameaçada pela vocação golpista da classe dominante nacional, zelosa da mantença dos seus privilégios seculares, ainda que por meios violentos.

Entusiasmado no discurso de entrega da faixa presidencial ao seu sucessor Jânio, o ex-presidente Juscelino declarou consolidada a democracia no Brasil. O desenvolvimentista mineiro jamais esteve tão enganado, pois, meses depois, o udenista paulista renunciaria ao cargo, e a alta burguesia arquitetou uma ação antidemocrática contra a legítima posse do vice-presidente, o progressista Jango.

O engenheiro Leonel Brizola, outro desenvolvimentista, liderou a resistência democrática aos golpistas distribuindo armas ao politizado povo gaúcho. Sobre o fato, o ex-deputado Moniz Bandeira escreveu: “Só um filho do povo, que nunca renegou suas origens, podia armar o povo. Desde a Revolução Mexicana, na segunda década do século XX, nenhum outro político latino-americano, dentro de uma sociedade burguesa, ousou tomar semelhante iniciativa. Esse gesto jacobino de Brizola as classes dominantes nunca perdoaram”.

Todavia, o poder econômico só permitiu que Jango governasse como o enfraquecido presidente do regime parlamentarista do primeiro ministro Tancredo Neves, o confiável. Um plebiscito restituiu todos os poderes presidenciais a Goulart. Inconformada com a plebiscitária escolha popular, a amotinada burguesia induziu os militares a golpearem, com a violência dos canhões, a frágil democracia brasileira apeando do poder o gaúcho legalmente eleito. Jango, um rico estancieiro, foi rotulado de comunista pelo incendiário udenista Carlos Lacerda.

Após atear fogo ao prédio que abrigava a União Nacional dos Estudantes (UNE), e se divertindo vendo jovens pulando o muro dos fundos para não morrerem queimados, a fidalga burguesia moradora da Zona Sul carioca, das varandas dos seus luxuosos apartamentos com vista para o mar, alegremente comemorou o fim da democracia bebendo champanhe francês, jogando confetes e berrando: “Agora o dólar vai baixar!”. Satirizando e denunciando a instauração da mentira no território nacional, o compositor Juca Chaves ironizou cantando: “E quando o feijão dá sumiço e o dólar se perde de vista, o Globo diz que tudo isso é culpa de comunista”.

“Vivemos uma outra época”, dirá o desmemoriado cidadão dominado pela alienante mídia atual.

Ledo engano, porquanto a mesma mentalidade reacionária, que financiou os crimes hediondos perpetrados pelos ainda impunes facínoras da Operação Bandeirantes, continua vívida e predominante nas entranhas da nata econômico-financeira da sociedade brasileira.

Sendo hoje um estorvo ao plano entreguista de preservação do modelo fiscalista imposto pela ditadura dos economistas-chefes, as Forças Armadas são alvo de campanha de desvalorização ante a opinião pública. Os neo-udenistas, então, recorrem à sua arma disponível mais poderosa: o controle do mercado financeiro, capaz de criar uma situação social caótica, ao estilo daquela que paralisou os transportes minando a sustentação do governo do chileno Salvador Allende.

O jornal Valor Econômico de 19/10/09 (na página C2) publicou a mais recente advertência do burguês fidalgo: se a pré-candidata do governo à presidência da República se aliar aos desenvolvimentistas “não governará”, ameaçou, destemidamente, um digno porta-voz da confraria financeira de alta linhagem “sintetizando uma opinião quase consensual do mercado” (confira).

A fidalga burguesia ficou acostumada a receber do governo, durante o fenecido período neoliberal, a sua robusta mesada mensal provenientes das aplicações em fundos mútuos lastreados em papeis emitidos pelo governo para rolar – sem amortizar – a sua enorme dívida interna. Os recursos economizados pelos superávits primários devem saudar os compromissos com os siderais juros dessa dívida, mesmo que falte dinheiro para investir no desenvolvimento do país.

Sem poder contar com as quarteladas e os Doi-Codis, agora, o mesmo burguês fidalgo ameaça, publicamente, impor o caos financeiro à população para proibir de governar qualquer presidente legitimamente eleito pelo voto popular que ouse mudar o esquema espoliativo vigente, resumido na expressão “pagar primeiro para depois, se sobrar, crescer”.

* Osvaldo Martins Rizzo é engenheiro e ex-conselheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)

Matéria extraída do Site Congresso em Foco:

http://congressoemfoco.ig.com.br/cf/noticia.asp?Cod_Canal=4&Cod_Publicacao=30370

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O dia em que Jango prendeu o cabo Anselmo


Carta Maior:


O dia em que Jango prendeu o cabo Anselmo

Em março de 1964, Anselmo foi preso quando tentava penetrar - e falar - na reunião do Automóvel Clube. Esse episódio tem sido ignorado até hoje, pois nunca interessou à mídia, cúmplice do processo golpista desde o início. Quem me reviveu o episódio agora, com detalhes preciosos que expõem o repúdio de Jango à indisiciplina que enfraquecia o governo na área militar e encantava os golpistas e a mídia, foi o coronel Juarez Mota - à época capitão e ajudante de ordens do presidente, hoje aposentado, 75 anos de idade, e vivendo em Porto Alegre. O artigo é de Argemiro Ferreira.

Argemiro Ferreira

A veemência com que, na entrevista ao Canal Livre da Rede Bandeirantes, o notório cabo Anselmo (José Anselmo dos Santos), de olho numa indenização como "perseguido político", tentou negar que já era agente infiltrado (e provocador) da direita ANTES do golpe de 1964, não consegue contestar o depoimento enfático do delegado Cecil Borer em 2001 - conforme o excelente texto (talvez definitivo) assinado por Mário Magalhães na “Folha de S.Paulo”, a 31 de agosto de 2009.

Estou me metendo nessa discussão por ser assunto que me apaixona desde que participei, há pouco mais de três décadas, de uma reportagem de investigação da revista “Playboy”, conduzida pelo jornalista Marco Aurélio Borba, meu amigo (e editor nacional de “Opinião” no período em que dirigi a redação), que morreria poucos anos depois, num acidente em Brasília. Ouvi depoimentos para a revista no Rio, enquanto mais jornalistas faziam o mesmo em outros estados (não tenho aquele número da revista, mas seria bom se alguém pudesse informar ao menos o mês e o ano, entre 1977 e 1979, pois ainda acho que existem ali dados relevantes).

Na época, entrevistei vários militantes de partidos clandestinos e ex-presos políticos que tiveram contato com Anselmo (alguns insistem ainda hoje no detalhe de que seria marinheiro de 1ª classe e não cabo). Eles relataram fatos e dúvidas. Ouvi ainda pessoas que tinham servido na intimidade do governo João Goulart. A começar por meu amigo pessoal Raul Ryff, ex-colega de trabalho na redação do “Jornal do Brasil”, que tinha sido secretário de imprensa de Jango.

Com a ajuda de Ryff, cheguei a outros nomes de pessoas que tinham servido no Palácio durante o governo Jango. Eduardo Chuahy, amigo dele, capitão do Exército até ser cassado em 1964, servira como ajudante de ordens no gabinete militar da presidência, então chefiado pelo general Argemiro de Assis Brasil. Reconstituiu com riqueza de detalhes o clima existente no setor militar do Palácio e as muitas trapalhadas de Assis Brasil, que garantia existir o célebre - e ilusório - “dispositivo militar” capaz de impedir um golpe.

O aviso de Corseuil: "ele é espião"
Eu estava particularmente interessado em falar com o comandante Ivo Acioly Corseuil, o que foi possível na época graças ao aval de Ryff e Chuahy, que o conheciam bem. De fato, Corseuil contou muita coisa, aprofundando relatos já conhecidos. Mas o núcleo central do depoimento dele a mim foi a ratificação do que já dissera a Moniz Bandeira e estava no livro (publicado em 1977) “O Governo João Goulart - as lutas sociais no Brasil, 1961-1964”, sobre o qual escrevi minuciosa resenha para “IstoÉ”, infelizmente publicada na época com alguns cortes.

Ele explicou que no governo de Jango o chefe da Casa Militar (Assis Brasil) era também o secretário do Conselho de Segurança Nacional. Segundo a entrevista que Corseuil me deu, em 1962 ele era chefe de gabinete do CSN e em 1963 passou a sub-chefe da Casa Militar. Foi quando fez o informe (ele não lembrava a data precisa) avisando que Anselmo era agente infiltrado, provocador e trabalhava para a CIA.

Corseuil me disse que tinha informações de várias fontes, segundo as quais havia gente infiltrada entre os marinheiros. Até pessoas vestidas de marinheiros que, na verdade, não eram marinheiros. Uma das fontes que lhe passaram tais informações era “um rapaz da turma de Carlos Lacerda”, então governador da Guanabara. Julgou confiável o dado porque o rapaz, que conhecia há algum tempo, ex-funcionário do ministério da Marinha, trabalhava para Lacerda junto aos marinheiros (lacerdista, tinha saído do emprego para trabalhar no Palácio Guanabara).

Mas a informação de que Anselmo era agente da CIA não viera desse agente (identificado apenas como “Tanahy”) e sim por um correspondente de jornal norte-americano - “pessoa com muitos contatos, que falava com muita gente”. Ele sempre telefonava para dar informações. Por exemplo, tinha passado imediatamente a informação sobre uma reunião de Lacerda com correspondentes norte-americanos para conclamar os EUA a derrubar Jango.

Para a CIA, "útil por liderar"
Para Corseuil, Anselmo não era o único agente infiltrado, mas pode ter sido escolhido pela CIA onde era visto como capaz de liderar. Perguntado por que nada foi feito pelo governo de Jango, apesar das muitas informações e avisos feitos, respondeu que as providências não cabiam ao CSN. A Marinha é que teria de se aprofundar no caso, por estar na sua área. A tarefa teria de ser especificamente do Cenimar, que era sempre avisado. Corseuil enfatizou que também tomara a iniciativa de avisar pessoalmente o Cenimar. “Aquela gente do Cenimar era toda do Lacerda. E o Lacerda fomentava a rebelião”, disse-me ele.

Corseuil também explicou que nenhuma providência foi tomada desde 1962, apesar de tantos avisos e informes, em parte por causa do próprio temperamento de Jango, que “tinha um coração grande demais”. Lembrou o episódio da revolta dos marinheiros, no Sindicato dos Metalúrgicos, quando o presidente foi especificamente alertado para o papel de Anselmo e nada fez - embora outras pessoas do governo também tenham alertado na época para a necessidade de ação vigorosa para deter a conspiração.

Mas pelo menos dois oficiais que serviam no Palácio recordam ainda hoje um episódio no qual Jango, pessoalmente, agiu com firmeza, mostrando estar consciente do papel de Anselmo como provocador e agente infiltrado. Chuahy, então capitão, pediu que Ryff alertasse Jango e mostrasse ao presidente como a mídia, desde que começara o problema dos sargentos, superdimensionava a questão e apostava deliberadamente na ação potencial de Anselmo para subverter a disciplina, empurrando até moderados das Forças Armadas para o lado do complô golpista em marcha.

O episódio citado foi o da prisão de Anselmo em março de 1964, quando tentava penetrar - e falar - na reunião do Automóvel Clube. Tem sido praticamente ignorado até hoje, pois nunca interessou à mídia, cúmplice do processo golpista desde o início. Quem me reviveu o episódio agora, com detalhes preciosos que expõem o repúdio de Jango à indisiciplina que enfraquecia o governo na área militar e encantava os golpistas e a mídia, foi o coronel Juarez Mota - à época capitão e ajudante de ordens do presidente (além de amigo), hoje aposentado, 75 anos de idade, e vivendo em Porto Alegre.

"Preso por ordem do presidente"
Estava em marcha, claro, a operação destinada a desestabilizar o governo, como parte do esforço para superdimensionar os movimentos dos sargentos e dos marinheiros (ainda que muitos, obviamente, tenham deles participado por desinformação ou ingenuidade). Conforme o relato do coronel Juarez, o presidente não sabia que Anselmo planejava falar no Automóvel Clube, mas tinha consciência de que ele era agente infiltrado na esquerda.

“Quem o viu chegar foi o coronel Carlos Vilela, da Casa Militar”, conta o militar aposentado. “Como eu estava mais à frente, acompanhando o presidente, ele me chamou: ‘Está chegando o cabo Anselmo, o que faço?’ O próprio Jango antecipou-se e deu a ordem: ‘Prende!’ Quando Anselmo começava a entrar, voltei com Vilela, que o segurou pelo ombro, enquanto eu punha a mão no pescoço. Os dois desviamos o cabo à força para outra sala, onde havia um sofá de dois lugares. Vilela mandou que ele sentasse e comunicou: ‘Por ordem do presidente, o senhor está preso’. Em seguida Vilela foi chamar o coronel (Domingos) Ventura, comandante da Polícia do Exército. Ventura veio com a escolta e levou Anselmo preso para o quartel da PE.”

Para Juarez, aquela ordem firme de Jango deixou claro que não tinha dúvida sobre quem era Anselmo. Podemos concluir que a avaliação coincidia com a descrição de Cecil Borer, delegado e torturador que o usava no DOPS como informante (conforme contou à “Folha” em 2001) juntamente com “a Marinha e os americanos”. O relato de Juarez é reforçado por Chuahy, que à época já era veemente também na crítica aos movimentos de sargentos e marinheiros, devido á manipulação oculta da oposição direitista com apoio da mídia. Vilela morreu no ano passado (2008). Tinha sido ajudante de ordens do general Zenóbio da Costa na II Guerra Mundial.

Juarez Mota continuou no Exército (aposentou-se como tenente-coronel) e nunca deixou de ser amigo de Jango, que conhecia praticamente desde criança. Natural de São Borja, também era parente do presidente Getúlio Vargas: seu avô era primo-irmão de Getúlio e a bisavó Zulmira Dorneles Mota era irmã de dona Cândida Dorneles Mota, mãe do presidente que se matou em 1954.

Blog de Argemiro Ferreira

terça-feira, 31 de março de 2009

Um barítono desafinado (Sebastião Nery)

BELO HORIZONTE - Murilo Badaró estava saindo da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas, em 1955, quando entrei (1954). Era de longe a melhor voz da Escola e de toda a Universidade. Arranjou um pseudônimo de barítono e fazia sucesso cantando óperas. Nos bailes do DCE (Diretório Central dos Estudantes) não sobrava para ninguém.

Afinadíssimo. Mas veio o golpe de 1964 e os militares acharam que ele desafinou. Deputado estadual pelo PSD, foi à tribuna no dia 10 de junho de 1964 protestar contra o ato mesquinho, covarde e traiçoeiro do general Castelo Branco, que negociou com Juscelino o apoio do PSD para o Congresso referendar sua nomeação para a Presidência da República e dias depois, em 8 de junho, cassou mandato e direitos políticos do senador JK.

Em 1966, Murilo elegeu-se deputado federal. Veio o AI-5 de dezembro de 68 e os militares acharam que era hora de acertar as contas com o afinado barítono e o desafinado juscelinista. O ditador de plantão Costa e Silva reuniu o Conselho de Segurança Nacional para cassar dezenas de senadores, deputados e até três ministros do Supremo Tribunal Federal, ainda não cassados pelos Atos Institucionais anteriores.
Pedro Aleixo

Murilo Badaró estava na lista. Mas o vice-presidente de Costa e Silva era (ainda) o mineiro Pedro Aleixo. Quando apareceu o nome de Murilo na lista para ser degolado por causa do discurso de quatro anos atrás, protestando contra a cassação de Juscelino, Pedro Aleixo o defendeu calorosamente, convenceu Costa e Silva e impediu sua cassação.

O senador gaúcho e ministro da Educação Tarso Dutra, participante da reunião, contou a Murilo, que foi visitar Pedro Aleixo:

- Professor, vim agradecer-lhe a generosa defesa que o senhor fez de mim na reunião do Conselho de Segurança e impediu minha cassação.
- Meu filho, o que é isso? Você não sabe de nada. A reunião foi secreta. Logo, não existiu. Como você agradece uma coisa que não houve?

Meses depois, o Conselho de Segurança Nacional, convocado pela Junta Militar (os "três patetas"), cassou a vice-presidência de Pedro Aleixo.

Pedro Aleixo aprendeu que na ditadura reunião secreta também existe.
Academia

A Academia Mineira de Letras acaba de fazer 100 anos. Seu atual presidente é o ex-barítono, ex-deputado, ex-ministro, ex-senador, ex-prefeito de Minas Novas e primoroso escritor Murilo Badaró.

Fundada em Juiz de Fora, a Academia fez lá uma sessão solene pelo centenário. Murilo foi de carro com o jornalista e poeta Petrônio Gonçalves. Como bons mineiros, chegaram antes, muito cedo. Juiz de Fora mal amanhecia. Para lerem os jornais, os dois sentaram-se na praça em frente à Câmara Municipal, onde logo mais começariam as comemorações.3
Padre

Dois mendigos acordavam na praça e começaram a discutir. Um deles foi até o banco onde Murilo estava com o Petrônio:

- Doutor, o senhor é advogado ou é juiz?
- Sou padre. Esse aqui é meu sacristão.
- Uai, então me dê uma bênção, seu padre.

Murilo o abençoou:

- Vai em paz. Que Deus te acompanhe.

O mendigo voltou para onde estava seu companheiro:

- Hoje estou com sorte; fui abençoado pelo padre Murilo Badaró.
Aécio

Aécio Neves é assim também. Quando a pesquisa é aqui dentro de Minas, ele é absoluto. No "Datafolha" sobre a aprovação dos governadores dos dez maiores estados dentro de seus estados, ele continua o primeiro, imbatível, com nota 7,6%.

O segundo é Eduardo Campos, de Pernambuco, com 7,0. O terceiro é Cid Gomes, do ceará, com 6,9.

Sergio Cabral, do Rio, entre os 10, é o penúltimo, com 6,0. Vai mal. E a Yeda Crusius, do Rio Grande do Sul, é a ultima, com 4,3. Vai péssima.

Mas, quando Aécio sai de Minas, atola. Parece carro de boi na lama, não anda. Nem virando padre adiantaria.
Ombudsman

No "O Globo", o Merval Pereira, que em geral tem feito colunas bem lúcidas, criticou Lula no encontro com o primeiro-ministro inglês Brown:

1 - "Lula deu uma das maiores gaffes de um chefe de Estado, com a declaração racista (sic) de que a crise internacional foi provocada por brancos de olhos azuis". (Aí Lula está certo, foi mesmo.)

2 - "Quando perguntado se o que dizia tinha sentido ideológico, Lula tentou minimizar dizendo que não conhecia nenhum banqueiro negro ou índio. Além de mostrar desinformação - o ex-presidente do Merrill Lyinch, Stanley O'Neal, era negro e foi dos banqueiros mais influentes em Wall Street, e o atual presidente do Citi Bank é o indiano Vikram Pandit -, o presidente Lula tenta mais uma vez jogar as perdas da crise internacional no colo dos estrangeiros, sem assumir nossas culpas, como se o País estivesse em perfeitas condições".

Tudo errado, Merval. A gaffe não é de Lula, é sua. Lá em Jaguaquara, se eu confundisse "indígena" (Aurélio: "relativo ou pertencente a índio") com "indiano" (Aurélio: "da ou pertencente ou relativo à Índia"), minha querida professora Dona Sisinia me daria o zero que nunca me deu

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Morte de Jango: documentos reabrem polêmica (Tribuna da Imprensa - Elder Ogliari)

PORTO ALEGRE (AE) - O ex-presidente brasileiro João Goulart não estava mais na condição de asilado político do Uruguai quando morreu em sua fazenda de Mercedes, na Argentina, em 6 de dezembro de 1976. A descoberta aumenta a suspeita de assassinato e também de que a versão oficial, enfarte por causas naturais, pode ser incorreta, acreditam o conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul (MJDH/RS), Jair Krischke, e advogado Christopher Goulart, do Instituto Presidente João Goulart e neto de Jango.

Krischke e Goulart vão ao Ministério Público Federal entregar documentos inéditos, obtidos em Montevidéu, da Direção Nacional de Informação e Inteligência, ligada ao Ministério da Defesa, e do Ministério das Relações Exteriores do Uruguai. E esperam que as novas evidências levem o governo brasileiro a abrir os arquivos do governo federal e também a pedir os documentos desclassificados da CIA aos Estados Unidos. "Esse é um tema que interessa a todos os brasileiros e não somente à família", afirmou Goulart.

Os novos documentos indicam que João Goulart havia renunciado ao status e, consequentemente, à proteção do Estado uruguaio, no dia 9 de novembro daquele ano, quando pediu formalmente a troca pela condição de residente, alegando ter diversos negócios no país. Uma semana e meia depois, no dia 18, o Ministério das Relações Exteriores uruguaio aceitou a solicitação e encaminhou ao Ministério do Interior autorização para confecção da carteira de residente. O documento ainda não havia sido emitido quando o ex-presidente viajou para a Argentina e morreu.

Para o conselheiro do MJDH/RS, a descoberta da situação de "indocumentado" de João Goulart deve ser analisada junto com outras informações da época, em 1976, e podem abrir caminho para a mudança das versões oficiais. Krischke diz ter evidências de centenas de outros brasileiros que pediram a troca da condição de asilados pela de residentes no Uruguai e, por depoimento de pelo menos um deles, de quem preserva o nome, acredita que a iniciativa foi incentivada pela ditadura daquele país.

Sem a proteção do asilo, muitos ficaram vulneráveis e alguns chegaram a ser presos. João Goulart pode ter tentado se tornar residente para ter mais facilidade para entrar e sair do país, tanto para cuidar de seus negócios de exportador de carne quanto de suas atividades políticas. Mas isso, segundo Krischke, poderia interessar ao governo uruguaio daquela época, porque ficava eximido de suas responsabilidades, inclusive a de saber de eventuais saídas de João Goulart.

Entre os documentos há informações indicando que João Goulart era constantemente monitorado. Tanto que um deles refere-se a um possível encontro de João Goulart com o senador uruguaio exilado na Argentina Zelmar Michelini e com o general Juan José Torres, presidente deposto da Bolívia, em Buenos Aires, aparentemente para tratar da liberdade de sul-americanos residentes no Chile e presos no aeroporto de Ezeiza, na capital argentina.

Krischke destaca que em 1976, com a eleição de Jimmy Carter, os Estados Unidos estavam trocando sua política externa, de apoio às ditaduras pelo respeito aos direitos humanos. Coincidentemente, lembra, naquele ano foram assassinados políticos que estariam cotados para vencer eleições se seus países retomassem a democracia. "É o caso do chileno Orlando Lettelier (assassinado em Washington), do uruguaio Michelini e do boliviano Torres (assassinados em Buenos Aires)", cita.

Segundo Krischke, no Brasil também morreram em circunstâncias não totalmente esclarecidas Juscelino Kubitschek em 1976 e Carlos Lacerda em 1977.

É nesse contexto que o MJDH/RS e o Instituto João Goulart acreditam que a morte do ex-presidente brasileiro deve ser investigada, "mesmo que seja para esclarecer que não houve assassinato". Na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (RS), o ex-funcionário do serviço secreto uruguaio Mario Neira Barreiro, preso no Brasil por assaltos, afirma desde 2003 que o ataque cardíaco que matou João Goulart foi provocado por envenenamento. "Talvez nem tudo o que ele conta seja verdade, mas seus depoimentos e citações, confrontados com outras informações, mostram que ele sabe muitas coisas", afirma Krischke.