10 anos sem Leonel de Moura Brizola
Fonte: OM - Hari Alexandre Brust | 20 de junho de 2014
Neste
21 de junho, há 10 anos, perdemos a nossa mais autêntica e expressiva
liderança e o Brasil ficou privado da sua maior referência política.
Por oportuno, destacamos trechos do discurso proferido pelo nosso
valoroso companheiro e competente Senador Cristovam Buarque, lamentando a
ausência do grande líder no cenário político brasileiro: “Medimos os
grandes políticos pela presença deles no cenário nacional quando estão
vivos, mas medimos a importância dos maiores de todos pela ausência
deles”.
E Brizola foi um político de presença firme ao longo de todas as
décadas de sua atividade política. Ele nunca esteve discreto na vida
pública brasileira. Sempre teve um lado claro, firme, em defesa da Nação
brasileira, em defesa dos trabalhadores brasileiros.
Veja também:
Vídeo: Direito de esposta de Brizola à Rede Globo
Vídeo: OS CIEPs do Rio, modelos de escola integral
O caso Proconsult, por Hélio Fernandes
Proconsult, Globo, CIEPs, e as lutas de Leonel Brizola no livro "El Caudillo"
Vídeo: uma das entrevista polêmicas de Brizola, no Roda Viva
Brizola faz falta nesse mundo em que, aparentemente, não há bandeiras
claras, nítidas. Ele carregava em si uma bandeira. Ele falava com uma
posição, com um lado, com uma nitidez de princípios e de propostas, sem
esse furta-cor que hoje caracteriza as bandeiras dos partidos no Brasil.
Brizola faz falta na soberania nacional, na nitidez de posições que
digam: existe um lado, e existe outro lado, não esse meio-de-campo em
que todo mundo hoje está se misturando.
Brizola faz muita falta, sim, porque era a voz, respeitada
nacionalmente, capaz de colocar no cenário nacional a prioridade radical
pela educação. É diferente o discurso que põe essa bandeira na boca de
outros ou na boca do grande Leonel Brizola, até porque ele fez esse
discurso há mais de cinquenta anos.Hoje, no momento em que o grande
capital é o conhecimento, no momento em que a base do progresso é a
educação, a fala de Brizola estaria incendiando este País por uma
revolução.
Brizola está fazendo falta, porque ele criou, há muito tempo, a
verdadeira escola, que era o Centro Integrado de Educação Pública
(CIEP): a escola de horário integral. Mas ele falou tão na frente, tão
adiantado, que não conseguiu levar isso para o Brasil inteiro.
Brizola faz falta por que seria capaz de conduzir o Brasil nessa
revolução educacional que defendia em um tempo, antes de ser essa a
verdadeira razão da revolução. O grande Brizola faz falta no momento em
que as leis trabalhistas exigem alguns ajustes, mas não podem ser
ajustes contra os interesses dos trabalhadores.
Ele faz falta por que a voz dele seria a melhor para dizer que aqui
estão as mudanças que podemos fazer, aqui está o limite além do qual a
gente não vai, aqui está a maneira de mudar as leis, melhorando-as, não
prejudicando os trabalhadores. Ele está fazendo falta, nesse momento,
porque a voz dele daria uma força, uma credibilidade que nenhum de nós,
políticos ainda vivos, temos.
Brizola tinha os princípios, a história dos princípios, a palavra dos princípios. Por isso, faz falta.
Brizola faz uma profunda falta também neste momento do vazio
ideológico que vive a política no Brasil, porque ele nunca foi
contaminado por uma ou outra ideologia. Ele construiu sua ideologia. Ele
foi capaz de não cair nos “ismos” e criar o Trabalhismo junto com
Getúlio, com Jango, com Pasqualini e com outros, mas a linha dele não
seria afetada pelo debacle que a gente viu da maneira como o socialismo
era feito.
Hoje, lembramos a todos que houve um político que foi grande quando
vivo e que ficou ainda maior quando a gente sente sua ausência. Viva
Brizola, pelo seu tamanho em vida e pelo sentimento de ausência que ele
nos passa!”
O jornalista Petronio Souza, tão logo soube da morte de Brizola, assim definiu o grande líder:
“Foi gênio e genial, homem raro, daqueles que nasceu lá para as
bandas dos pampas do olhar reto, direto; engenheiro por formação, queria
reconstruir o país, e estruturado em valores solidificados na pedra
preciosa do nacionalismo autêntico. Não enxergava limites nem divisas,
para ele a Nação era o todo, sem barreiras no amor incorporado. Agora,
ficamos nós com o coração vazio. Muitos não concordavam, mas ouviam. Por
autoridade nacional, ele repetia, repercutia. Agora, fica faltando um
bravo no céu anil do Brasil. Fica faltando as sábias palavras do grande
pai nacional que, sempre, para o bem geral da Nação, ponderava. Fica
faltando Leonel Brizola, o homem que fez desabrochar uma Rosa Vermelha
brasileira, dentro do peito dos verdadeiros filhos da Pátria”.
Registramos a nossa profunda saudade, principalmente, neste momento,
em que a corrupção, o nepotismo e a falta de ética corroem os poderes
republicanos, sem que uma voz que tenha a sua credibilidade e a sua
autoridade, levante-se na defesa do povo humilhado.
Para nós seus amigos e seus companheiros e para mim em particular que
em 1957, aos 19 anos passei a integrar a sua equipe na Prefeitura de
Porto Alegre, Brizola vive, através do legado das suas idéias, da sua
coerência e da sua coragem e determinação na luta da defesa dos
interesses e dos anseios do povo brasileiro e, cabe a nós, os seus
seguidores trabalhistas autênticos, dar continuidade aos seus projetos e
as suas propostas consubstanciadas na Missão que ele legou ao PDT:
“Nós temos a nossa responsabilidade com a história. Nosso partido é o
único com determinação de assumir as grandes causas nacionais. Nenhum
partido é tão nacionalista quanto o nosso. Queremos um país
desenvolvido, autônomo, independente. Nós somos a emanação das lutas
sociais. O Trabalhismo nasceu da Revolução de 30, de uma inspiração do
Presidente Getúlio Vargas, que foi evoluindo de acordo com o processo
social, empenhado em garantir direitos à massa dos deserdados. Nós
somos as verdadeiras reformas, a mudança, o voto rebelde. O PDT é um
partido derramadamente democrático. Somos a expressão brasileira do
socialismo democrático e tomamos a feição social democrata, pois é
preciso chegar a um certo nível de igualitarismo para termos
desenvolvimento. Nós temos genética, somos uma grande sementeira de
idéias em beneficio do povo brasileiro. Temos que estar sempre onde está
o povo. Existimos para dar voz aos que não tem voz. Nossa ancoragem é a
área deserdada da população. Nosso guia é o interesse público e o bem
comum”.
(*) Hari Alexandre Brust é secretário-geral do PDT-BA (pdtbahia@hotmail.com)
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