terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Manifesto de JK pode dar em desterro (Tribuna da Imprensa há 40 anos)

8 de agosto de 1968


Dentro da nova linha de endurecimento do governo, Juscelino Kubitschek poderá ser o próximo confinado, caso insista em divulgar o seu propalado manifesto, ou qualquer pronunciamento de crítica aos atuais detentores do Poder. Os passos do ex-presidente da República já estão sob rigoroso controle das autoridades do Ministério da Justiça, que não escondem o propósito de impor a JK o silêncio a que estão sujeitos todos os políticos cassados. Mas os amigos do sr.

Kubitschek continuam a insistir na necessidade de sua participação na luta pela redemocratização do País, através de declarações contrárias ao governo, ainda que isso lhe custe um longo período de confinamento.

MDB viaja a Corumbá

BRASÍLIA (Sucursal) - Em nota oficial, a Comissão Executiva Nacional do MDB manifestou o seu "inconformismo ante as providências de ordem punitiva que o governo tem tomado, como ainda ontem se verificou, na Guanabara", ao mesmo tempo em que decidiu enviar uma representação partidária à Corumbá, para visitar o ex-presidente Jânio Quadros.

A Comissão designada pelo MDB, terá a seguinte composição: senadores Lino de Matos, Josafá Marinho, Bezerra Neto e Mário Martins deputados Mário Covas, Martins Rodrigues, Mata Machado, Fernando Gama, Chagas Rodrigues, Feliciano Figueiredo e Evaldo Pinto.

Exército fica de novo de prontidão

A maioria das unidades do Exército, com base nas informações de que os estudantes persistirão hoje na movimentação de rua, entrou, desde as seis horas da manhã, em regime de prontidão, mas os soldados não participarão ostensivamente da repressão, permanecendo no mesmo estado de alerta, recolhidos aos quartéis, como vem sendo adotado desde terça-feira.

14 carros de combate, cada um com 28 homens, constituíram o contingente do I Exército que se manteve, ontem, de sobreaviso, nas dependências do Quartel General, prontos para entrar em ação se ocorressem incidentes entre os estudantes e as tropas da Polícia Militar, encarregadas da repressão. Só às 18 horas, o contingente recolheu-se ao qualtel de sua unidade, no Batalhão da Polícia do Exército.

Brasil quebra a escrita

A tática argentina de armar um sistema defensivo de sete homens, com dois líberos, e tentar o gol de contra-ataque, ontem, não surtiu o efeito desejado por eles, embora durante 40 minutos tivessem êxito, tanto na defesa como nas jogadas isoladas para tentar o gol. Mas quando isso aconteceu, surgiu o goleiro Félix para acabar com o desejo dos argentinos. Se não bastasse a vitória, para satisfação do público, este, de pé, explodiu, em alegria, quando após quatro minutos sem que os argentinos pusessem o pé na bola, Jairzinho marcou o quarto gol da seleção brasileira e o seu único da partida.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Visita de Lacerda aumenta repressão a Jânio (Tribuna da Imprensa há 40 anos) 5 de agosto de 1968)

Governo diz que prisão de líder foi erro


O "governador" Luís Viana, da Bahia, e seu colega Abreu Sodré, de São Paulo, acompanhados pelo senador Daniel Krieger, presidente da Arena, almoçaram ontem juntos, no Rio, e entenderam que a prisão do líder estudantil Wladimir Palmeira foi "um lamentável erro político do governo", porque vai dar motivo para manifestações dos estudantes que já não tinham condições para fazer, com êxito, novas concentrações.

Discutiram inclusive a idéia de se avistarem com o marechal Costa e Silva, no Palácio das Laranjeiras, hoje pela manhã, para tratar do problema com o chefe do governo, ocasião em que reiterariam ponto de vista já firmado de que as questões do ensino no Brasil só serão solucionadas quando houver as reformas dos sistemas atuais, que consideram completamente superados.

Visita de Lacerda aumenta repressão a Jânio

CORUMBÁ (De Mauro Ribeiro, enviado especial) - O aeroporto desta cidade passou todo o dia fortemente policiado ante a notícia de que o ex-governador Carlos Lacerca chegaria ontem para se avistar com o sr. Jânio Quadros. Corumbá foi dominada por uma série de boatos, desde a chegada iminente do sr. Carlos Lacerda, que já estaria em Campo Grande, até um encontro secreto entre os Srs. Jânio Quadros, Juscelino Kubischek e um emissário do Sr. João Goulart, numa fazenda situada perto da cidade.

O ex-presidente Jânio Quadros confirmou que vai mesmo divulgar, nos próximos 15 dias, um manifesto de críticas ao governo, sendo que até a quinta-feira liberará para os jornalistas partes do documento, onde ele narra todos os fatos que precederam o seu confinamento.

Jordânia convoca conselho da ONU

O governo jordaniano solicitou ontem a reunião urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, após o ataque da aviação israelense a seu território precisamente na região de El Salt, onde os israelenses acreditam ser a base da organização palestina "El Fatah".

Antes de iniciar o ataque aéreo contra a Jordânia os aviões israelenses lançaram panfletos na região de Salt, que expressavam as seguintes advertências: "Saibam que o que os espera em Israel é a morte ou o cárcere. Vossos chefes vos enganam. Só no mês de julho enterramos 44 terroristas e mais de 200 estão em nossas prisões.

Convite a Saldanha agita seleção

O convite do chefe da delegação carioca, Sr. Ciro Aranha, ao comentarista João Saldanha, para assessorar o técnico Zagalo à boca do túnel no jogo de quarta-feira com os argentinos, desagradou ao supervisor, técnico, médico e preparador físico da seleção.

Aranha tomou esta decisão sem fazer qualquer consulta, tanto que resolveu marcar uma reunião para hoje, às 17h30 horas, entre os membros da cúpula, mas Zagalo e Lídio Toledo já anunciaram que não poderão comparecer. O técnico levará sua mulher ao médico e Lídio alegou que todas as segundas-feiras viaja para o interior de São Paulo a fim de operar num hospital.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Lacerda diz que irá mesmo se reunir com Jânio (Tribuna da Imprensa há 40 anos)

SALVADOR (Do correspondente) - Ao passar por esta cidade, ontem, a caminho da Guanabara, onde deverá chegar hoje, o ex-governador Carlos Lacerda manteve encontro com amigos e repórteres aos quais confirmou que irá ao encontro do ex-presidente Jânio Quadros, em Corumbá. Mato Grosso. Adiantou ainda que no encontro que manterá com o Sr. Jânio Quadros pretende discutir a ampliação dos Pactos de Lisboa e Montevidéu, firmado com os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart.

Jânio pode ficar incomunicável para não ver CL

O governo federal pode determinar hoje, logo após a reunião ministerial, que o ex-presidente Jânio Quadros, confinado em Corumbá, permaneça em estado de incomunicabilidade como fórmula para impedir as suas entrevistas diárias à imprensa e o anunciado encontro com o ex-governador Carlos Lacerda, que as autoridades governamentais consideram iminente.

A reunião ministerial, que se inicia às 9h30, no Palácio das Laranjeiras, deverá se revestir de grande importância, embora a sua convocação tenha sido feita "exclusivamente" para exame das reivindicações prioritárias da Amazônia, para onde o foverno se deslocará a partir do dia 6.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Carlos Lacerda a caminho de Jânio em seu degredo (Tribuna da Imprensa há 40 anos)

1 de agosto de 1968

O ex-governador Carlos Lacerda declarou, ontem, em Recife, que vai ao encontro do ex-presidente Jânio Quadros em seu confinamento em Curumbá, pois agora é fácil encontrá-lo em "local certo e sabido". A seguir, Lacerda admitiu que pode reintegrar-se ao esquema "revolucionário", desde que o marechal Costa e Silva se proponha a atendê-lo nas seguintes reivindicações: 1ª - Elaboração de uma nova Carta Magna; 2ª - Convocação de uma Assembléia Constituinte; 3ª - Eleições diretas para a Presidência da República. O ex-governador da Guanabara manteve também uma longa conferência com dom Hélder Câmara, no Palácio de Manguinhos, sem que nada fosse revelado desse encontro.

Corumbá: JQ diz que recebe CL com prazer

CURUMBÁ - Às primeira horas de hoje, o sr. Jânio Quadros afirmou que receberá com prazer a visita do sr. Carlos Lacerda, caso o ex-governador da Guanabara aqui apareça. Por outro lado, dona Eloá declarou que vai passar a fazer pronunciamentos políticos, retratando "o quadro de forças a que fui submetida".

Jânio quadros repeliu as exigências do general Mendonça Lima, no sentido de que não desse mais entrevistas à imprensa, limitando sua ação a uma área que seria traçadas pela II Brigada Mista. O ex-presidente está inteiramente cercado. Na porta do apartamento onde se encontra hospedado acha-se um agente federal de plantão. Na entrada do hotel, mais dois agentes e, nas imediações, um jipe com um sargento e dois soldados.

Justiça pode julgar JQ depois do confinamento

SÃO PAULO - (Sucursal) - O processo formado ontem na Sexta Vara da Justiça Federal, constituído da portaria do ministro da Justiça que confinou o sr. Jânio Quadros, somente será julgado daqui a quatro meses se o juiz encarregado do caso, sr. José Pereira Gomes, cumprir rigorosamente os trâmites normais.

O ministro Gama e Silva, cumprindo a exigência fixada no Ato institucional nº 2, enviou ontem à tarde à Justiça Federal de São Paulo a cópia de sua portaria, acompanhada de um ofício e da investigação sumária realizada pela seção paulista do Departamento de Polícia Federal. O processo foi então organizado e, em seguida, o juiz distribuidor Caio Plínio Barreto fez o sorteio, que indicou a Sexta Vara, cujo juiz homologará ou não a decisão do ministro da Justiça.

Arena pede a Costa que ouça

A liderança da Arena resolveu fazer novo apelo ao marechal Costa e Silva para que estude, sem prevenções, as reivindicações da Igreja, dos trabalhadores, estudantes, intelectuais, artistas e parlamentares que estão fazendo movimentos de rua, lembrando ao chefe do governo que nenhuma classe "quer derrubar o regime mas apenas colaborar na reforma das estruturas sociais que estão estagnando o País".

O senador Daniel Krieger, que se encontrava ontem em Porto Alegre, deverá ser, na qualidade de presidente do partido, o portador do documento contendo as ponderações dos parlamentares que apóiam o governo, o que ocorrerá durante um encontro do marechal Costa e Silva com todos os líderes e vice-líderes da Arena, que será oportunamente marcado.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Jânio: Só pela força me levam para Mato Grosso (Tribuna da Imprensa há 40 anos)

30 de julho de 1968



Em face da violenta reação do Sr. Jânio Quadros, que protestou contra o tratamento dispensado a um ex-chefe do governo, o ministro da Justiça fez uma pequena concessão, dilatando até as sete horas da manhã de hoje o prazo dado inicialmente para que o ex-presidente se decidisse a cumprir a ordem de confinamento. Enquanto se processavam essas demarches, o cerco policial ia se fechando em torno da casa do Sr. Jânio Quadros, inclusive com a presença de soldados do Exército, armados de metralhadora, que aguardavam ordens para entrar em ação.

Parlamentares, líderes sindicais, além de amigos e admiradores do ex-presidente, em clima de forte tensão, permaneciam no interior da casa sitiada, onde sucesivas reuniões, sob o comando do próprio Jânio, discutiam as medidas cabíveis contra o ato do governo.

JK estuda o desterro

Só hoje pela manhã o ex-presidente Juscelino Kubitschek decidirá o que fazer em relação ao confinamento do Sr. Jânio Quadros. Reunido com antigos auxiliares e com o deputado Renato Archer, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, em face da precariedade de informações sobre o confinamento de Jânio Quadros, deixou para hoje qualquer decisão pública a respeito do assunto: Tendência: publicação de um minifesto de apoio a Jânio.

Josaphat denuncia que degredo contraria tudo

O senador Josaphat Marinho (MDB-Bahia) disse ontem que o confinamento do Sr. Jânio Quadros, determinado pelo ministro Gama e Silva, "contraria, fundamentalmente, todos os preceitos jurídicos do País", acentuando que os Atos Institucionais, que serviram de apoio à decisão ministerial, perderam todos os seus efeitos com a entrada em vigor da Constituição de 1967.

"O que o Artigo 173 da atual Constituição quis preservar, explicou, foram determinados efeitos das aplicações dos Atos Institucionais, como, por exemplo, o impedimento de os cassados votarem ou serem votados. Não há, porém, nem no corpo das disposições permanentes nem no das disposições transitórias, uma regra, mas uma só, que, explícita ou implicitamente, consagre a sobrevivência dos Atos Institucionais e complementares.

sábado, 13 de setembro de 2008

Para Lula, momento brasileiro lembra "anos dourados de JK"




BRASÍLIA - Com as pesquisas de opinião apontando uma taxa de popularidade alta como nunca, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou um evento modesto - a abertura de uma exposição no Memorial Juscelino Kubitschek, em comemoração aos 106 anos de nascimento do ex-presidente - para proclamar que o Brasil vive hoje um momento semelhante aos "anos dourados" da era JK.

Lula tomou o cuidado de não comparar-se pessoalmente com o fundador de Brasília. Mas o discurso, ouvido por um auditório ocupado apenas pela metade, foi pontuado por paralelos: a origem humilde, o desejo de fazer do Estado o planejador do desenvolvimento e até o fato de Juscelino ter sido "achincalhado" sem nunca levantar a voz.

Os anos JK foram marcados por um grande otimismo em relação ao futuro e por decisões ousadas que transformaram o País, como a opção por uma economia industrializada, a começar pela instalação das montadoras. Lula acredita ter retomado essa trilha, depois de um período em que o planejamento foi abandonado no País.

Um exemplo é o que aconteceu com a indústria naval, cujo desenvolvimento estava previsto no item 28 do Plano de Metas de JK. Nos anos 70, disse Lula, a indústria de embarcações no Brasil empregava 40.000 pessoas e era a segunda maior do mundo, perdendo só para o Japão. Em 2003, os estaleiros estavam à beira da falência, com um total de 1.400 empregados.

Naquele ano, disse Lula, foi tomada a "decisão soberana" de revitalizar a indústria naval. A primeira providência foi nacionalizar a construção da plataforma P-52. Seguiram-se outras encomendas. Hoje, os estaleiros empregam novamente 40.000 pessoas e estão prestes a passar por um novo impulso, pois a exploração do pré-sal demandará mais de 200 novos navios, além de sondas e plataformas.

Lula deu uma alfinetada na gestão de Fernando Henrique Cardoso, marcada pelas privatizações e pelas crises financeiras. Ao comentar que o pré-sal surgiu num momento em que o processo de crescimento já estava em curso, ele acrescentou: "tivesse emergido em outros tempos, talvez esse patrimônio fosse alienado na voragem das liquidações impostas pelo estrangulamento interno."

Os números que mostram o vigor da economia - como a expansão de 18% na indústria de máquinas e os investimentos evoluindo a um ritmo três vezes superior ao crescimento do Produto Interno Bruto - colocam o Brasil em um momento tão confiante quanto no período de Juscelino, avaliou Lula. "Trata-se de um Brasil à moda de JK. Um país que retomou a auto-estima de sua juventude, hoje uma das mais otimistas do mundo." A exposição "Um Certo Navio Brasileiro", inaugurada com a presença de Lula, mostra painéis da plataforma P-34.

Comprada nos anos 50 para extrair petróleo, a embarcação havia recebido o nome de Presidente Juscelino Kubitschek. Durante a ditadura militar, foi rebatizada como Presidente Prudente de Moraes. Recentemente, a plataforma voltou a ter seu nome original. Foi a bordo dela que Lula deu início à exploração do petróleo do pré-sal, na semana passada, na costa do Espírito Santo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Presidente elogia ousadia do ex-presidente Juscelino Kubitschek

Roberta Lopes
Repórter da Agência Brasil


Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou hoje (12) durante o discurso em comemoração dos 106 anos do nascimento do ex-presidente Juscelino Kubitschek, a ousadia e a nova forma de gestão política imposta pelo ex-presidente.

"Foi JK [Juscelino Kubitschek] quem conscientizou o país de que o desenvolvimento nacional é uma prerrogativa nacional intransferível de um povo, e sobretudo que com ousadia e planejamento é possível fazer do amanhã algo muito além de uma simples repetição do presente", afirmou o presidente.

O presidente Lula disse que foi o ex-presidente quem começou a desenvolver a indústria brasileira, trazendo fábricas de automóveis e refinarias de petróleo para o país.

O presidente lembrou que no fim da década de 50 fabricar carros no Brasil era uma ousadia reprovada pelos defensores da vocação agrícola nacional, que eram importados 90% do petróleo consumido, que praticamente não havia mão-de-obra qualificada e que o setor de crédito engatinhava.

"Hoje somos auto-suficientes em petróleo, 13.500 veículos saem das linhas de montagem por dia, mais de 300 mil brasileiros trabalham nas montadoras e no setor de autopeças. Do chão da fábrica também saiu um presidente da República, em mais uma evidência da semeadura generosa promovida pelo desassombro de JK", afirmou.

Lula destacou que uma das metas do Plano de Metas de JK dizia respeito ao aumento do frota naval. "A meta número 11 do Plano de Metas de Juscelino era a renovação da Marinha Mercante brasileira. A meta número 28, previa a implantação de uma indústria naval condizente com a nossa riqueza costeira e oceânica", lembrou.

O presidente também lembrou que na década de 70 o Brasil tinha a segunda maior indústria naval do mundo e só perdia para o Japão. Os estaleiros brasileiros empregavam quase 40 mil pessoas. Em 2003, disse Lula, essa indústria tinha 1.600 trabalhadores e agora conta novamente com 40 mil trabalhadores.

"Com a descoberta do petróleo [na camada pré-sal], nós certamente iremos ter mais do que os 40 mil trabalhadores que temos hoje, porque só de navios contratados pela Petrobras são 200, sondas serão inicialmente 38 e plataformas dezenas. Certamente Juscelino está sorrindo pelo que está acontecendo aqui", afirmou.

sábado, 12 de julho de 2008

Brizola e Lacerda jamais se falaram (Helio Fernandes - Trfibuna da Imprensa

O encontro do governador com João Goulart, ex-presidente

Helio
Inspirado em teu artigo, quero lembrar que o destino colocou Brizola e Lacerda lado a lado na história brasileira; só faltou serem íntimos. Vamos ver: José Brizola, pai de Brizola (que morreu degolado), foi capitão dos provisórios de Leonel Rocha, caudilho maragato, na Revolução Federalista de 1923, que em 1924 deu apoio a Prestes, com homens e armas. Terminada a revolução, já em 1928, os líderes maragatos, tendo à frente Assis Brasil, fundaram o Partido Libertador, e Maurício de Lacerda, pai de Lacerda, foi um dos fundadores. Maurício seguia o ideário maragato, pelo qual o pai de Brizola morreu lutando.

Brizola e Lacerda "terçaram armas" na Câmara de Deputados em 1954, quando eleitos deputados federais: Lacerda começava a jurar a Constituição, quando Brizola interrompeu dizendo que era um juramento falso, porque ele estava pregando o golpe de Estado lá fora. Brizola exibiu a Tribuna da Imprensa, em que Lacerda defendia um estado de emergência; houve estupefação geral (Moniz Bandeira).

Atenciosamente,
Antonio Santos Aquino - Rio de Janeiro
Comentário e revelações

Lembro muito bem esse episódio em 31 de janeiro de 1955. Brizola já havia feito o juramento, quando Lacerda ia fazer o seu foi interrompido de forma agressiva e inédita. Mas não tiveram mais oportunidade de se relacionarem. Brizola foi logo para o Sul, nesse mesmo 1955, em 3 de outubro se elegeu prefeito de Porto Alegre. Não terminou o mandato, em 3 de outubro de 1958 era eleito governador do Estado.

Curiosamente derrotando a UDN e o PSD, que se aliavam sempre contra ele, que disputava pelo PTB. UDN e PSD tinham a intuição ou a certeza de que o homem a derrotar, de qualquer maneira, era Leonel Brizola. E acabaram tendo razão.

Ele e Lacerda continuavam distantes, mais geográfica do que ideológica ou administrativamente. Brizola assumiu o governo em janeiro de 1959, Lacerda em dezembro de 60. Os dois foram excelentes governadores. Em 3 de outubro de 1962, ainda governador do Rio Grande do Sul, Brizola se elegeu deputado federal pela Guanabara, governada por Lacerda.

Deixou o governo em 31 de janeiro de 1963, no mesmo dia assumia na Câmara. A partir daí a História é visível, não precisa ser contada. O golpe de 64 (um contra, o outro a favor) acabaria por destruir os dois, impedindo que chegassem a presidente. Brizola tinha enorme capacidade de "fazer amigos e inimigos". Antes de 64, candidato a presidente com o slogan "cunhado não é parente, Brizola para presidente". Ainda em 1963, tentou um acordo com Jango, que o nomearia ministro da Fazenda e o marechal Lott, ministro da Guerra, com o direito de vigiá-lo no Ministério da Fazenda para "que não fizesse loucura".

João Goulart até que não ficou totalmente contra, pediu tempo. Mas conversou com Roberto Marinho, que acabava de publicar na primeira página de "O Globo" o editorial "João Goulart, um estadista". Com base nisso, estando na companhia do embaixador Lincoln Gordon, e sentado na cama do presidente, disse a ele: "Se você (intimidade total) nomear o Brizola ministro da Fazenda, não termina o mandato". Goulart recuou, não nomeou Brizola e não terminou o mandato. Era melhor ter nomeado, não sei o que aconteceria, mas o Brasil não seria o mesmo.

Quando Carlos Lacerda foi a Montevidéu, levar o "Manifesto da Frente Ampla" para o ex-presidente assinar, conversaram demoradamente. Em determinado momento, Carlos Lacerda disse a João Goulart: "Tenho que ir embora pois vou a Atlântida (onde Brizola estava confinado, por ter feito declarações sobre o golpe de 64 e os generais brasileiros pediram ao Uruguai que o mandassem para o interior, o que foi feito) ver se o governador Brizola quer assinar o Manifesto".

Na volta, Carlos Lacerda me contou, ainda surpreendido: "Quando falei isso, João Goulart empurrou o papel para mim e disse, se esse senhor assinar eu não assino". Perguntei o que ele fez. Resposta: "Disse, presidente, se o senhor não quiser não procuramos a assinatura dele". E assim foi feito.

PS - Aproveitando uma carta ótima, recordei e contei acontecimentos inteiramente desconhecidos, até hoje não revelados.

PS 2 - Eu ia a Montevidéu com Lacerda, não consegui autorização para viajar. Se despedindo, Lacerda me disse: "Puxa, não queria ir sozinho, não por causa do Jango, nós somos políticos, vamos nos entender. Mas se Dona Maria Teresa aparece e me pergunta o que estou fazendo na sua casa? Não sei o que responder". Felizmente (para o encontro) Dona Maria Teresa não apareceu.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Amanhã, na Alerj, lançamento de livro sobre Brizola (Hélio Fernandes - Tribuna da Imprensa)

Amanhã, na Alerj, lançamento de livro sobre Brizola
Lembro dele e de Lacerda

Amanhã, quinta-feira, às 4 da tarde, a Alerj, surpreendentemente, tem uma iniciativa produtiva, positiva e elucidativa. Lança livro que tem um título altamente original, sobre um dos personagens mais importantes do Rio e do Brasil nos últimos 50 anos.

O personagem, Leonel Brizola. Organizadora, Marieta de Moraes Ferreira. Título: "A força do povo, BRIZOLA, e o Rio de Janeiro". Lançamento às 4 da tarde na Alerj.

Justíssimo o registro e a homenagem, pois Brizola teve importância muito grande, já não mais no Distrito Federal, e sim no Estado da Guanabara. Em 1962, Brizola passou por aqui feito um furacão, se elegeu deputado federal com votação fantástica. De cada 10 eleitores, 4 votaram nele.

O governador era Carlos Lacerda, os dois, impensada e desastradamente inimigos, (mais do que adversários) não se encontraram nunca. Não perceberam que apesar das aparentes ou invisíveis divergências e diferenças, queriam a mesma coisa. Só que jamais puderam conversar e se entender.

Como fui grande amigo dos dois, posso dar um depoimento simples e sumário, mas decisivo para que se mostre como eram até solidários mas desconhecidos, os destinos de Brizola e Lacerda. Já escrevi uma vez e repito: "Gostaria de ver Lacerda ou Brizola na presidência da República". Mesmo que me decepcionassem, o País jamais seria o mesmo.

Citei Carlos Lacerda antes de Brizola, porque na história do Rio, Carlos Lacerda vem antes. E na minha história pessoal com os dois, a mesma coisa. Meus primeiros contatos com Lacerda começam em 1946 na Constituinte, e vão com ligeiras interrupções até 1968 no AI-5. O amaldiçoado texto que transformou um golpe de estado passageiro, numa ditadura permanente, cruel e autoritária. Só perdendo em tortura e selvageria para o Estado Novo "do ditador Getulio Vargas".

Presos juntos em 13 de dezembro de 1968, pude conhecer (e devergir) do desalento de Lacerda, e discutimos seriamente sobre sua decisão de abandonar a vida pública. O que aconteceu, apesar do meu protesto. Viajou a seguir, ficou na Europa até 1973, voltou, se enclausurou na Editora Nova Fronteira. E morreria inesperadamente em 1977, aos 63 anos de idade, quando já se viam, de longe, os sinais da ANISTIA, AMPLA, GERAL E IRRESTRITA.

Essa anistia que não beneficiou Lacerda, trouxe Brizola para o Brasil em 1979. E por decisão dele mesmo, veio à Tribuna e me disse: "Fiz questão que a minha primeira visita ao voltar ao Brasil, fosse a você e a este jornal que eu não sei como pôde resistir tanto e tão bravamente".

(Em Montevidéu, quando Lacerda levou o Manifesto da Frente Ampla para João Goulart assinar, o ex-presidente perguntou: "O Helio Fernandes não vinha com o senhor?" Lacerda confirmou, mas disse que eu tive problemas para sair do Brasil. Resposta de João Goulart: "Todo dia, para as centenas de exilados, a satisfação é a chegada da Tribuna da Imprensa".)

Eu e Brizola estávamos conversando pela primeira vez, não por divergência e sim por circunstância. Brizola fez toda a carreira no Rio Grande do Sul, secretário, prefeito de Porto Alegre, governador. Quando veio para o plano nacional, o País já estava na derrocada do que chamam de "nova capital", não pudemos nos encontrar.

Mas a partir daquele dia, ficamos imediatamente amigos de infância. Conversamos longamente, não na mesma direção das conversas com Lacerda, mas com o mesmo entusiasmo e amor pela LIBERTAÇÃO do Brasil. Por isso louvo o livro que será lançado amanhã, esperando a hora do livro sobre Lacerda.

PS - Brizola "encampou" as empresas multinacionais de energia que roubaram o Rio Grande por quase 100 anos.

PS 2 - Lacerda fez o mesmo com a Light (e associadas), que roubou (a mesma palavra) o Distrito Federal e a Guanabara, pelo mesmo tempo. O que mostra que estavam muito pertos, só não se encontraram.


Aldo Rebelo
Há meses vem dizendo: "Não serei candidato a vice". Há meses venho dizendo: "Será candidato a vice de Dona Marta". Quem estava certo?

Aldo Rebelo jamais foi candidato a prefeito de São Paulo. Venho dizendo há muito tempo: "Ele quer ser vice de Dona Marta, é a única possibilidade de ocupar cargo executivo". (Foi presidente da Câmara, pelo fato de Severino Cavalcanti ter sido derrubado por corrupção.) Escrevi matéria ampla sobre o assunto, pelo menos há 10 dias. Agora o deputado do PC do B, vem a público.
Afirmação de Aldo Rebelo, hoje o número 3 na escala de ex-stalinistas: "Desisti de ser candidato a prefeito, serei vice de Marta". "Menas" verdade, afinal conseguiu o que pretendia.

No dia 12 de junho, escrevi aqui, e vou transcrever: "Em 2010 São Paulo terá um governador ex-stalinista, Alberto Goldman. E pode ter um prefeito da capital, também ex-stalinista, Aldo Rebelo".
Como é que eu podia adivinhar? E ainda concluí, desta maneira: "O fato deles serem ex-stalinistas não me assusta. O problema é que não disputaram eleição, assumirão cheios de aspas". Goldman está garantido. Falta Dona Marta vencer.

É inacreditável como Sérgio Cabral exibe satisfação quando está ao lado do presidente Lula. Sempre às gargalhadas, parece que o presidente é um humorista. Mais compostura não apenas administrativa, repercutiria bem. E na verdade, Sérgio não ganhou nada.
Amicíssimo de Sérgio Cabral, revelei aqui, com 48 horas de antecedência, que Marco Aurelio Bezerra de Mello, seria nomeado desembargador no "quinto constitucional". Foi, não dava para errar.

Ontem tomou posse, a mulher de Sérgio Cabral representou o governador que estava com Lula. O desembargador começou muito mal, as nomeações, desastrosas e até perigosas.
O competente deputado federal Otavio Leite (ex-vice do Rio) quis saber informação sobre obras do PAC numa favela.

O ministério recusou informar, a Caixa também. Para saber, tem que entrar com mandado de segurança, um absurdo. Mas não desiste.
O governador José Serra deu "início à campanha de Alckmin para prefeito". Na segunda e terça andou pela cidade, "visitando obras". Com o candidato do seu partido? Não, com o adversário Kassab. Ha! Ha! Ha!

E a Lei Eleitoral permite isso? Acabaram com a "infidelidade" partidária. E esse comportamento do governador, como é que se identifica?
O DEM será o último partido a fazer convenção no Rio. Só tem uma candidata, Solange Amaral, distante do segundo turno.

Rodrigo Maia vai dizer na convenção, "que impugnará a candidatura de Eduardo Paes". Segundo todos que examinam a questão, i-n-e-l-e-g-í-v-e-l.
O presidente está cada vez mais sorridente, satisfeito, feliz com ele mesmo. Vem até à inauguração da Bayer, uma das maiores exploradoras do Brasil. Pertenceu ao grupo Associado, com Chateaubriand ainda vivo. Era dirigida(?) por Leão Gondim de Oliveira.

Registrou um slogan realmente muito bom e popular, "se é Bayer é bom". Mas não tinha nada a ver com a realidade.
Enriqueceu explorando o povo e o País. E mais grave: o povão é que comprava seus produtos. Pela idade, Lula não sabe disso, devia se informar.

A propósito: aumentam violentamente as remessas de lucros das multinacionais-privatizadas-globalizadas. Enviam cada vez mais lucros, que são obtidos (e remetidos) quase sem taxação.
Nos EUA, qualquer remessa de lucros, deixa nos cofres do País, pelo menos 35 por cento. Na Bovespa (grande equívoco nacional) ganham FORTUNAS, sem pagar coisa alguma. Que República.

O senhor Benjamin Steinbruch e sua CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) são, pessoal e empresarialmente, os mais processados do Brasil. Têm DEZENAS DE MILHARES DE AÇÕES na Justiça, sempre condenados. (Mais de 9 mil ações.)
Por causa das denúncias feitas aqui, me processou, surpreendentemente o juiz deu ganho de causa a ele, bloqueou minha conta passando imediatamente o saldo para ele. Agora, condenado várias vezes foi chamado pela juíza Daniela Brandão Ferreira e pelo desembargador-relator Marcus Faver, de "LITIGANTE DE MÁ FÉ".

Com 200 páginas de documentos irrefutáveis e irrevogáveis, vou fazer a autópsia ética, moral, financeira e administrativa desse homem sem escrúpulos, e sem caráter, que a partir de um banquinho falido, se transformou numa potência financeira das mais arrogantes.
Meu único problema é espaço. É tanta bandalheira, PROVADA, que preciso saber como levo ao conhecimento do cidadão-contribuinte-eleitor, TODOS OS ILÍCITOS praticados diariamente por esse personagem. Vou desmascarar esse "Barão" até a Justiça.
XXX

Manchete exagerada e incorreta de "O Globo": "País já prende por lei seca e Rio ainda nem fiscaliza". Na verdade o que existe é uma "repressãozinha" sem a menor importância. A "lei seca" a que se refere o jornal, aconteceu nos EUA de 1919 a 1933. Foram 14 anos de subversão, corrupção e total gangsterismo.

Mas veio provar que o Poder tem forma de acabar com o que no Brasil se chama de "crime organizado". O banditismo dominou o País, bebia-se vertiginosamente, os gangsteres (Al Capone, o chefe) enriqueciam sem controle.

Franklin Delano Roosevelt assumiu a presidência em 5 de março de 1933, (era a data da posse, mudou várias vezes, agora é fixa em 20 de janeiro) mandou ao Congresso emenda constitucional, (acho que de número 20), acabou a "lei seca", todos podiam beber onde e quando quisessem, os bandidos morreram na cadeia, o país voltou à mais completa tranqüilidade. Mas houve fiscalização completa no trânsito.

No segundo mandato de Roosevelt, sua mulher Eleonora Roosevelt, ia de Georgetown, (onde trabalhava) para a Casa Branca (onde morava). Na Avenida Pensilvânia, adormeceu na direção. Era a mulher do presidente, ficou sem carteira por 1 ano, teve que fazer novo exame. Imaginem se tivesse bebido?

terça-feira, 22 de abril de 2008

A segunda guerra do Paraguai (Sebastião Nery)

Mário Palmério, o saudoso e telúrico romancista mineiro de "Vila dos Confins" e "Chapadão do bugre", deputado federal pelo PTB de 1951 a 63, foi embaixador do Brasil no Paraguai em 1963 e 64. Uma noite, toca o telefone da embaixada, era o ditador Stroessner:

- Dom Mário, estava precisando falar com o senhor. Pode passar aqui pela manhã, às cinco?
- Da manhã, presidente?
- Sim. Chego sempre ao palácio às cinco. É melhor para conversar.
- Presidente, em nome da amizade do Brasil com o Paraguai, essa conversa não podia ser às 11?
Podia. Foi às onze.
Stroessner

Mário Palmério, escrevendo seus poderosos romances e compondo belas guarânias ("Saudade" é uma das três músicas mais populares do Paraguai), fez da embaixada do Brasil em Assunção um refúgio de políticos e intelectuais da oposição. Uma tarde, chega à embaixada o então ministro do Exterior, Sapeña Pastor:

- Senhor embaixador dom Palmério, nosso país deseja e precisa manter as melhores relações possíveis com o Brasil. Mas o senhor tem aqui na embaixada, asilados, mais de 40 inimigos do regime, e isto está causando os maiores problemas para o governo. O senhor não podia tomar uma providência para ajudar meu ministério e nosso governo?
- Pois não, senhor ministro, já estou tomando. Vamos lá em cima, no segundo andar, para o senhor ver a beleza de apartamento que estou preparando para asilados de luxo.
- Mas esta é uma brincadeira de mau gosto.
- Não é não, senhor ministro. O general Stroessner, seu presidente, em outros tempos já foi hóspede da embaixada do Brasil. O senhor, em qualquer eventualidade, também pode contar conosco.

Sapeña Pastor saiu e nunca mais tocou no assunto. Quando foi derrubado, Stroessner fugiu para Brasília, onde viveu até morrer.
Jango

Nos fins de 1963, os jornalistas Murilo Marroquim e Benedito Coutinho, os dois mais antigos repórteres políticos de Brasília, foram chamados à Granja do Torto, residência oficial do presidente. Jango os esperava à beira da piscina, sozinho, serviu uísque aos dois:
- Vocês já estiveram na Rússia? (Murilo já, Benedito não). Pois se preparem os dois, que muito em breve iremos a Moscou. Olha, isso é inteiramente confidencial. Só quatro pessoas sabem disso: eu, o embaixador soviético e, agora, vocês.

Deu uma volta na piscina, pensando, voltou eufórico:

- Vamos construir a hidrelétrica de Sete Quedas (Itaipu).
- Com que recursos, presidente?
- São 12 milhões de quilowatts. Técnicos brasileiros e soviéticos. Três planos qüinqüenais. Financiamento russo a juros mínimos. Grandes exportações de produtos agrícolas brasileiros para a União Soviética, para facilitar o pagamento. Só os russos possuem, hoje, turbinas para o porte de Sete Quedas. Já sondei o Stroessner. A energia ociosa do Paraguai será comprada por nós. O embaixador soviético me disse que seu país não tem o menor interesse em disputar o mercado ocidental. Interessam-lhe grandes obras, como as de Assuã, no Egito.
União Soviética

Os dois ouviam, espantados, Jango sorriu:

- Vocês não acreditam? Tem mais. O plano global inclui a ligação do Amazonas ao Prata. Vamos realizar o velho sonho brasileiro.

Murilo Marroquim, com sua sabedoria pernambucana, interrompeu:

- Presidente, o plano é maravilhoso, mas o senhor não vai executar. É uma obra monumental, mas é uma obra política. A Rússia não fará uma Assuã na América Latina, porque os Estados Unidos não vão deixar.
- Somos um país livre, independente. Contarei com o apoio das Forças Armadas para resistir a qualquer pressão e contarei com o povo.
Três meses depois, Jango era derrubado.
Itaipu

Domingo, no "Globo", a banqueira Miriam Leitão, que entende mais de negócios americanos do que a Hilary, Obama e McCain juntos, lembrou:

1 - "Itaipu foi construída (no governo Geisel) com endividamento, os juros subiram muito no exterior, a dívida virou uma bola de neve, a empresa pagou uma grande parte, mas ainda há dívida até o ano 2023. A maior parte da receita da usina é para pagar a dívida. Por isso, o Paraguai recebe um valor por megawatt que considera menor do que merece".

2 - "O atual presidente Nicanor Duarte já tentou fazer mudanças no contrato de Itaipu, mas não foram aceitas pelo Brasil. Essa é uma história longa, que se resume no seguinte: Itaipu produz 14 mil MW de energia, dos quais cada país tem direito à metade. O Paraguai só precisa de uma pequena parte. Assim, vende o resto para o Brasil".

3 - "Hoje, o Paraguai recebe, líquido, US$ 350 milhões. Fernando Lugo (o candidato vitorioso, que era bispo, bispo verdadeiro, não fajuto, como o Crivella) acha que deveria ser, pelo menos, US$ 1,8 bilhão. A relação com o Paraguai nesse início do século XXI será desafiadora".
Vem aí a segunda guerra do Paraguai? Falta Caxias.

sábado, 5 de abril de 2008

Lacerda: Jogaram o povo contra o Exército e o Exército contra o povo

Manchete da TRIBUNA DA IMPRENSA 5 de abril de 1968:

Novas atrocidades e mais de 600 prisões

Mais de seiscentas pessoas foram levadas ontem para o Forte de Copacabana, ao deixarem os cinemas da Zona Sul. A onda recorde de prisões começou no Cine Metro, onde o público vaiou o documentário oficial do governo. O gerente chamou a Polícia e provocou a expedição militar. Essas medidas repressivas culminaram numa série de violências, iniciadas às portas da Candelária, logo após a missa (às 11:30 horas), celebrada em sufrágio da alma de Édson Luís de Lima Souto.

Após uma tarde marcada por movimentação de tropa e o espetáculo do aparato militar nas principais ruas e praças da cidade, bombas de gás lacrimogênio, carga de cavalaria e a ação dos cassetetes voltaram à Praça Pio X, onde o dispositivo policial militar voltou a se atirar sobre os estudantes que deixavam a nave da Igreja, após a segunda missa por seu colega morto, protegidos por 12 dos 17 sacerdotes que haviam coadjuvado d. José de Castro Pinto, arcebispo-auxiliar do Rio de Janeiro.

Pouco antes, a Rádio Jornal do Brasil havia sido retirada do ar. Hoje é feriado escolar em toda a Guanabra. Em São Paulo, o bispo de Santo André saiu à frente da passeata dos 100 mil. A situação continua tensa em Brasília. Mas o governo desistiu, em princípio, da adoção do estado de sítio.

Lacerda: Jogaram o povo contra o Exército e o Exército contra o povo

"Conseguiram fazer exatamente o que eu temia; jogar o povo contra o Exército e o Exército contra o povo" - disse o ex-governador da Guanabara, sr. Carlos Lacerda, ao comentar os últimos incidentes entre estudantes e as Forças Militares estaduais e federais. E acrescentou somente um milagre democrático poderá unir novamente as Forças Armadas ao povo".

Referindo-se à posição do governo federal em conter, pela força, as reivindicações estudantis, salientou o sr. Carlos Lacerda que "enquanto nos Estados Unidos, Lindon Johnson, cede na França, De Gaulle cedeu no caso da Argélia - na Tcheco-Eslováquia, os comunistas também cedem, no Brasil, o governo do marechal Costa e Silva responde às justas reivindicações não só do povo como também de todos os brasileiros, com balas de fuzis e violências de todas as ordens".

Seleção-força no Paraguai

São Paulo (Sucursal - S. Press) - Os paraguaios querem jogar com a Seleção Brasileira pela "Taça Osvaldo Cruz" no correr do mês de agosto, isto é, dentro da segunda quinzena. As duas preferidas são quinze e dezoito. O coronel Fernando Decamille presidente da Liga Paraguaia de Futebol, que acompanha a delegação do Guarani, que está disputando a "Libertadores da América", no grupo dois, e que jogou na noite de ontem, contra o Palmeiras, contou aos repórteres, que os seus entendimentos com o presidente da CBD, sr. João Havelange, já vão adiantados e parecem acertados.

Deseja o coronel Decamille, que o Brasil se apresente com a sua força máxima na próxima disputa, pois os paraguaios desejam ver os cobras da Seleção Nacional, mormente, porque ela será uma idéia da força brasileira para a Copa do Mundo de 1970.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Documento aponta que Jango era vigiado no exílio



Sábado, 16 de Fevereiro de 2008 | 07:03Hs

Redação

Documentos da polícia e do Exército uruguaio comprovam que o presidente João Goulart era vigiado no país vizinho durante o exílio. Segundo documento do Departamento de Inteligência do Exército, ao qual o jornal Folha de S. Paulo teve acesso, Jango aparece em uma lista com outros seis brasileiros, por ser considerado subversivo.
Após mencionar os nomes, consta no documento uma ordem escrita para que "se tenha conhecimento das atividades das pessoas mencionadas", sem mencionar a quem a determinação foi dada. O documento também relata uma reunião entre o presidente brasileiro, o então senador do Uruguai Zelmar Michelini e o ex-presidente da Bolívia Juan José Torres. Os três políticos teriam se reunido para conversar sobre asilados brasileiros, uruguaios e bolivianos que estavam em Buenos Aires.

Em outro documento, com data de 22 de fevereiro de 1974, do Departamento Nacional de Informação e Inteligência da polícia do Uruguai, uma relação de nomes de brasileiros vigiados, listando dados como telefones, número de documentos e atuação política.

Também apareciam na lista Dagoberto Rodrigues, que era amigo de Jango; o jornalista Edmundo Moniz de Aragão; Ivo de Magalhães; João Alonso Mintegui, adido comercial da Embaixada dôo Brasil no Uruguai durante o governo Jango; a jornalista Neiva Moreira; e o advogado e jornalista Carlos Olavo da Cunha Pereira.

Os documentos foram obtidos pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Brasil no ano passado, no Uruguai. Segundo o presidente da entidade, Jair Krischke, os dados obtidos no Uruguai reforçam as suspeitas de que havia interesse dos governos de ambos países em matar Jango.

Redação Terra

sábado, 2 de fevereiro de 2008

No silêncio da noite (Sebastião Nery)


RECIFE - De repente, no silêncio da noite, como na canção de Peninha cantada por Caetano, voando sobre o Atlântico, já próximo de Pernambuco, ele acordou com a voz do comandante, falando em espanhol:
- Atenção, por favor, senhores passageiros. Os fortes ventos que estamos enfrentando nos obrigam a fazer uma escala técnica em Recife, para recarregar o combustível. A demora no aeroporto será de aproximadamente 45 minutos. Obrigado.

Ele percebe o perigo e diz ao jornalista uruguaio Jorge
Otero, seu companheiro de viagem e vizinho de poltrona:
- Estou proibido de entrar em território brasileiro. Comprei esta passagem da Aerolineas Argentinas com o compromisso de não fazer uma só escala. Então, que o avião retorne à Europa.

E foram os dois à cabine falar com o comandante. Um comisssário de bordo tentou impedir. Mas, afinal, o comandante saiu e o ouviu:
- Sou o ex-presidente João Goulart, do Brasil. Estou como asilado na Argentina. (Era no Uruguai, mas vivia mais na Argentina.) Se o avião descer no Brasil, serei preso. O senhor deve devolver-me à Europa ou levar-me aonde quiser, a qualquer lugar, menos no Brasil.

Jango

O comandante estava "rígido e surpreso, com burocrática energia":
- É impossível atendê-lo. Os ventos frontais foram muito superiores aos previstos e por isso gastamos muito mais gasolina do que habitualmente. Quando o senhor comprou a passagem, tinha que saber das escalas assinaladas para uma emergência. Recife é o aeroporto mais perto.
- Mas, comandante, ninguém me avisou nada. Serei retirado do avião e preso. E o senhor será o responsável.
- Senhor, não entrará ninguém no avião. A esta hora só está acordado o responsável pela torre de controle, que vai chamar o pessoal do abastecimento. Não há ninguém no aeroporto.
- Desculpe, comandante. Mas meu nome está na lista de passageiros, que o senhor deverá entregar. Será só questão de minutos que venham do quartel e me levem preso. Contra mim, foi decretada uma ordem de prisão pela ditadura brasileira. Não posso entrar no Brasil, porque serei preso.
- Senhor, este é um avião argentino, sob meu comando. Não permitirei a ninguém que leve nenhum dos passageiros sob minha responsabilidade. Estamos em território argentino.
- Comandante, esta é uma aeronave civil. O senhor não vai poder fazer nada quando um punhado de soldados entrar aqui.

A responsabilidade por isso, que surpreenderá o mundo, será exclusivamente do senhor.
- Vou ver o que posso fazer, mas não alimentem muitas esperanças.

Recife, não

E voltou para a cabine. Jango e seu amigo, para os lugares deles. O jornalista uruguaio tentou aliviar a tensão de Jango:
- Presidente, o senhor me disse que em Madri comprou a passagem em nome de Belchior Marques. Talvez não se dêem conta de quem é.
- É possível, Jorge. Mas o chefe da guarnição militar de Recife foi promovido por mim. Tem que saber quem é o passageiro Belchior Marques

O tempo vai passando e nada. De repente, a voz do comandante:
- Atenção, por favor. Aqui fala o comandante. Quero informar que os cálculos do combustível que resta e a sensível melhora nos ventos tornam desnecessário descer em Recife. O vôo será sem escalas até Buenos Aires.

Jango, afinal, voltou a dormir. Era 12 de outubro de 76.

Juscelino

Esta história está no livro "João Goulart, recuerdos em su exílio uruguaio" (Ediciones la Plaza), de Jorge Otero, veterano jornalista de Montevidéu, ex-diretor do "El Dia". Encontraram-se em Paris e embarcado nas Aerolineas Argentinas direto para Buenos Aires.

Jango, proibido de entrar no Brasil e sem passaporte brasileiro, que a ditadura lhe tomara, viajava com passaporte do Paraguai. Hospedado no Hotel Claridge (Champs Élysées, 72), onde dias antes o encontrei, estava assustado com as macabras notícias da "Operação Condor" no Cone Sul (as ditaduras chilena, brasileira, argentina e uruguaia haviam planejado matar seus principais adversários) e sobretudo com o assassinato do general boliviano Juan José Torres, em Buenos Aires, e a misteriosa morte de Juscelino dois meses antes: 22 de agosto de 76.

Decidiu arrumar seus negócios no Uruguai e Argentina e voltar para morar em Paris e ficar mais perto dos filhos, que estudavam em Londres.

Geisel

Menos de dois meses depois, em 6 de dezembro de 76, Jango apareceu morto em sua fazenda em Mercedes, na Argentina. No fim do ano passado, o uruguaio Mario Neira Barreiro, ex-agente do serviço secreto da ditadura uruguaia, preso por assalto no Rio Grande do Sul, revelou a João Vicente, filho de Jango, e agora a Simone Iglesias, da "Folha", que "durante quatro anos espionou Jango e ele morreu envenenado, por autorização do ex-presidente Geisel ao delegado Sergio Fleury, numa operação financiada pela CIA, com cápsulas envenenadas misturadas a remédios que tomava".

O corpo foi trazido para São Borja sob as ordens de militares brasileiros, com o caixão lacrado e impedido qualquer tipo de autópsia.


http://www.tribunadaimprensa.com.br/anteriores/ontem/coluna.asp?coluna=nery

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

PF interroga ex-agente sobre morte de Jango e envia cópia a ministro da Justiça (Tribuna da Imprensa)

30/01/2008 - 20h40

da Agência Folha, em Porto Alegre

A Polícia Federal interrogou hoje na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (RS) o ex-agente do serviço de inteligência uruguaio Mario Neira Barreiro, 54, sobre sua participação em eventual assassinato do presidente João Goulart (1918-1976).

Barreiro --que cumpre pena por tráfico de armas, falsidade ideológica e roubo a carro-forte-- depôs por cerca de quatro horas e foi interrogado pelo delegado Mauro Vinícius Soares.

A superintendência da PF do Rio Grande do Sul não deu detalhes sobre o interrogatório. Apenas informou que o depoimento ocorreu a pedido do Ministério da Justiça e que o conteúdo será encaminhado ao ministro Tarso Genro.

O superintendente da PF gaúcha, delegado Ildo Gasparetto, disse que encaminhou uma cópia ao diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa. "Não podemos dar detalhes porque este assunto depende de uma diretriz nacional", afirmou o delegado.

À Folha, em entrevista publicada no domingo, o ex-agente disse ter participado de uma operação que tinha por objetivo, inicialmente, monitorar Jango no exílio e, depois, por ordem do governo brasileiro e com financiamento da CIA (agência de inteligência americana), matar o presidente.

Leia mais



http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u368380.shtml

domingo, 20 de janeiro de 2008

Revista "Isto É" revela: Jango teria sido assassinado

Jango foi envenenado PDF Imprimir E-mail
ImageDepoimento de agente uruguaio leva familiares do ex-presidente a pedir investigação sobre sua morte. O assunto é destaque na edição atual da revista IstoÉ.

Confira a matéria:

Madrugada do dia 6 de dezembro de 1976. Fazenda La Villa, município de Mercedes, na Argentina. Maria Teresa Goulart acorda o motorista do expresidente João Goulart, Roberto Ulrich, conhecido por Peruano. "O doutor Jango está passando mal", grita ela. Em busca de ajuda, Peruano corre até a cidade mais próxima, 14 quilômetros distante. Volta com o pediatra Ricardo Rafael Ferrari. O médico examina o expresidente, vira-se para Teresa e informa: "O seu marido está morto." No atestado de óbito, coloca como causa mortis apenas uma lacônica palavra: "Enfermedad" (doença, em espanhol).

A ação das autoridades argentinas e brasileiras nos dias seguintes jamais permitiu que tal diagnóstico pudesse ser aprofundado. Foi proibida a autópsia do corpo do ex-presidente. Essas circunstâncias fizeram com que a família e alguns amigos de João Goulart sempre desconfiassem que sua morte talvez não tivesse uma causa natural. Trinta e dois anos depois, o depoimento de Mario Neira Barreiro, um uruguaio que era agente do Grupo Gama, o serviço de inteligência daquele país, reacende a hipótese de um possível assassinato de Jango. Barreiro está preso no Rio Grande do Sul por roubo, formação de quadrilha e posse ilegal de armas. Com base nesse depoimento, os filhos de Jango, João Vicente Goulart e Denize Goulart, ingressaram no Ministério Público com um pedido de abertura de inquérito civil para que as circunstâncias da morte do ex-presidente voltem a ser investigadas.
AG. ISTOÉ
ESPIÕES
Foto de uma festa na casa de Jango, em 74 (à esq.), tirada pelo SNI, que identificou os presentes. Acima, Jango no comício da Central, em 64

O que Barreiro conta é digno de um filme de espionagem. Segundo ele, Jango teria sido envenenado com um tipo de cloreto desidratado transformado em comprimido e colocado em meio aos medicamentos que ele tomava para o coração. Esse veneno acelera o fluxo sangüíneo, provocando hipertensão. Horas depois da ingestão, leva a um derrame ou a um infarto. Durante 48 horas, vestígios ficam no organismo. E por isso houve a proibição de autópsia. Os remédios eram enviados para o Hotel Liberty, em Buenos Aires, onde Jango ficava quando estava na capital argentina. Ali é que o veneno teria sido colocado num dos frascos por um agente infiltrado no hotel.

No ano passado, João Vicente Goulart esteve com Barreiro, acompanhando uma equipe da TV Senado que produzia um documentário sobre Jango, ainda não concluído. Na entrevista, João Vicente identificou-se e o ex-agente uruguaio, impressionado com a sua presença, começou a falar. A história que ele conta parece mirabolante demais - não fosse por outros elementos já comprovados que reforçam a impressão de que seu depoimento não deve ser simplesmente desconsiderado.

Primeiro, está comprovado que as ditaduras da América do Sul naquela época colaboraram entre si para a produção de documentos conjuntos e para a prisão e extradição de presos políticos. Segundo, é fato também que naquela mesma época políticos de esquerda que foram depostos de seus cargos começaram a ser eliminados. E o terceiro elemento é que algumas dessas mortes parecem filmes de 007. O general Carlos Prats, comandante-em-chefe do Exército do Chile no governo Salvador Allende, foi morto num atentado a bomba em Buenos Aires em 1974. O exministro do Interior e da Defesa do Chile Orlando Letelier teve morte semelhante em Washington, em 1976. E o ex-presidente chileno Eduardo Frei Montalva morreu em 1982 por envenenamento com gás mostarda.

Em 2000, uma comissão especial da Câmara investigou as circunstâncias da morte de João Goulart. "Não há como afirmar, peremptoriamente, que Jango foi assassinado", escreveu à época o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), relator da comissão. "Mas será profundamente irresponsável, diante dos depoimentos e fatos aqui consolidados, concluir pela normalidade das circunstâncias em que João ROBERTO JAYME/PHOTONEWSGoulart morreu." Diante do fato novo, Miro acha que o depoimento de Barreiro deve ser investigado: "Ele só apresentou um conjunto de palavras, mas que, somado aos demais fatos já sabidos, não deve ser desconsiderado. O princípio da investigação é a dúvida. E dúvida é o que não falta."

"O AGENTE BARREIRO PODE SER UM DOS ÚLTIMOS ELOS VIVOS DESSAS AÇÕES"
João Vicente Goulart, filho de Jango

O que impressionou João Vicente Goulart foram alguns detalhes da narrativa de Barreiro. Ele sabia, por exemplo, o número do telefone da fazenda de Jango. E documentos que foram repassados ao filho do ex-presidente demonstram que havia agentes infiltrados na fazenda e que Jango era monitorado 24 horas por dia. ISTOÉ teve acesso à leitura de dois desses relatórios, produzidos em 1975 pelo Serviço Nacional de Informações do Brasil (SNI). O primeiro informa que documentos pessoais de Jango foram subtraídos "de forma clandestina", entre eles cartas do ex-presidente Juan Domingo Perón e do ex-deputado Ulysses Guimarães. O segundo é o relato de um certo "Agente B", que acompanhou de perto e fotografou a festa de aniversário do ex-presidente.

"Até agora, o esforço para a apuração das coisas tem sido familiar e pessoal, mas, daqui para a frente, não há mais muito em que a família possa avançar", diz João Vicente Goulart. Na ação, ele sugere que o Ministério Público tire Barreiro do Rio Grande do Sul e o transfira para Brasília, onde ele poderia narrar tudo o que sabe e esclarecer não apenas o caso relativo ao seu pai mas as circunstâncias do desaparecimento de outras pessoas durante as ditaduras sul-americanas. "Ele pode ser um dos últimos elos vivos dessas ações."

Vitrine do Cariri
IstoÉ




http://www.vitrinedocariri.com/index.php?option=com_content&task=view&id=16962&Itemid=21

sábado, 19 de janeiro de 2008

Deputado da Arena denuncia o fracasso do movimento de 64 (Tribuna da Imprensa há 40 anos)




(Manchete da TRIBUNA DA IMPRENSA de 19 de janeiro de 1968):

Jamil dá nome aos bois

BRASÍLIA (Sucursal) - As denúncias de corrupção no meio sindical ganharam nova dimensão, quando o deputado Jamil Amidem (MDB-GB) ocupou, ontem, a tribuna da Câmara, para citar nominalmente os sindicatos brasileiros subvencionados por entidades estrangeiras, ao mesmo tempo que se instalava a Comissão Parlamentar de Inquérito incumbida de promover investigações sobre o assunto. O representante carioca leu o texto de circular remetida pelo sr. Efraim Velasquez à Federação Internacional de Petroleiros e Químicos, em que critica, entre outras coisas, "a aparente incapacidade dos líderes trabalhistas brasileiros de estabelecer e manter um diálogo construtivo com o governo".

Deputado da Arena denuncia o fracasso do movimento de 64

No entender do deputado Mauro Werneck (Arena) "a revolução de 1964, após quase 4 anos, exibe, de forma exuberante, o seu fracasso total no plano político, econômico e sorial". Disse o parlamentar que "os militares após empolgarem o poder, diante da anarquia e do retrocesso econômico dominantes em 1968, não se mostram preparados para grandes tarefas.

Acentuou, ainda que "os militares, apesar de patriotas, patrocinam cegamente causas anti-Brasil; são honestos, e estão servindo de biombo a grandes e injustas negociatas; são "povo", mas, contribuem para o desprezo pelos politiqueiros são progressistas, no entanto se tornaram guardiães da política de estagnação".

Guatemala e Grã-Bretanha atuarão como mediadores de
impasse

LONDRES - (Carlos Sampaio - enviado especial) - Os países participantes do Acordo Internacional concordaram em que a Guatemala e Grã-Bretanha, atuam como mediadores, respectivamente, pelos produtores e importadores, do impasse entre as delegações do Brasil e Estados Unidos em relação ao problema do café solúvel.

Com essa decisão, deduz-se claramente que a delegação americana rejeitou a emenda do ministro Macedo Soares, na qual se propunha que o problema do café solúvel fosse incluído na pauta normal de atribuições da Organização Internacional do Café. Apesar de favorecê-los, essa emenda foi rejeitada pelos americanos, que querem o atendimento total de suas reivindicações.

Guedes Muniz pede ação contra os que caluniam militares

O presidente Costa e Silva desceu ontem de Petrópolis, interrompendo pela primeira vez, seu veraneio na Serra. Veio ao Rio para assistir à missa em ação de graças pelos 47 anos de sua formatura na Escola Militar das Laranjeiras. Mas hoje pela manhã, lá retornou à "Capital de Verão". O Marechal Costa e Silva chegou ao Rio num "Galaxie" chapa de Brasília, acompanhado pelo seu ajudante-de-ordens. Ao chegar à rua Uruguaiana, desnorteou totalmente seu esquema de segurança, quando deu a ordem. taxativa: "não quero aparatos em frente à Igreja".

http://www.tribuna.inf.br/40anos.asp

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Jango provará que Negrão traiu (Tribuna da Imprensa há 40 anos)

(Manchete da TRIBUNA DA IMPRENSA de 17 de janeiro de 1968)


SÃO PAULO (Sucursal) - O ex-presidente João Goulart tem dito a seus amigos, em Montevidéu, que divulgará, em breve, toda as cartas a ele enviadas pelo governador Negrão de Lima comprometendo-se, antes da sua eleição para o governo da Guanabara, a apoiar as eleições diretas e a anistia "como etapas importantes para a redemocratização do País".

A informação foi liberada ontem pelo sr. João Moura Valle, cunhado do ex-presidente, assinalando que "quando resolver tomar uma posição direta contra Negrão de Lima, o que vai acontecer dentro de breves dias, ele não terá possibilidade de obter maioria na Assembléia carioca".

Terremoto continua castigando a Itália e fazendo vítimas

ROMA, 16 - A inquietação aumenta na Sicília depois do novo terremoto, que ocorreu ontem à tarde, às 17,43 horas local e causou novas destruições em Gibelina e Montevago. A convulsão telúrica durou 52 minutos e atingiu a intensidade de oito graus mercalli (máximo 12). Gibelina e Montevago ficaram praticamente arrasadas. Com os seis terremotos ocorridos ontem, o total de abalos em dois dias eleva-se a 28. "É tão grande a amplitude do desastre" que continua sendo impossível adiantar um número de vítimas e calcular os danos materiais, declarou ontem à tarde no Senado o ministro do Interior, Emílio Taviani.

Chanceler argentino chega dia 20 para visita de 4 dias

Para uma visita oficial de 4 dias ao Brasil, após ter sido solucionado um dos principais problemas pendentes entre os dois países - uso do mar territorial argentino por pesqueiros brasileiros -, chega domingo ao Rio o chanceler argentino Costa Mendez. Nos últimos meses, os governos dos dois países (em que pese a quase crise gerada pela questão do mar territorial) vêm trabalhando quase que em conjunto no que se refere a questões de âmbito internacional. Há como que uma aliança, que dentro da ALALC, quer na OEA, ou até mesmo ONU, com os diplomatas brasileiros e argentinos buscando soluções conjuntas para problemas bi ou multilaterais.

Arena articula canditatura de Djalma Marinho contra Batista

BRASÍLIA - A candidatura do deputado Djalma Marinho à presidência da Câmara, já em articulação pelo grupo arenista interessado em renovar e dar afirmação ao partido, ameaça cingir os esquemas anteriormente feitos em torno dos nomes dos srs. Batista Ramos e José Bonifácio. O lançamento da candidatura Djalma Marinho, no entender dos novos parlamentares governistas, constitui o desdobramento da posição assumida pelo Rafael de Almeida Magalhães, na última reunião da Arena no Rio, quando criticou o imobilismo e a debilidade do partido, que se mostra incapaz de abrir caminho à retomada da normalidade constitucional.

http://www.tribuna.inf.br/40anos.asp

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

A derrota da UDN nas eleições legislativas de 1954 e os consequentes desdobramentos

O Senado e a 4ª República (3)



As Eleições Legislativas de 1954

O Vice-Presidente Café Filho assumiu no mesmo dia da morte de Getúlio Vargas, nomeando um Ministério predominantemente udenista e adotando uma política econômica contrária à estatização e favorável ao capital estrangeiro. O Brigadeiro Eduardo Gomes assumiu o Ministério da Aeronáutica, cabendo ao General Henrique Teixeira Lott ocupar o Ministério da Guerra, favorável a que o Exército se mantivesse estritamente dentro da legalidade. Em dezembro de 1954, realizaram-se as eleições legislativas: o PSD elegeu 114 Deputados, o PTB, 56, e a UDN, 74, com uma redução de 10 no número dos seus representantes na Câmara dos Deputados.

O Grupo Sorbonne

Nos meados dos anos 50, constituiu-se na Escola Superior de Guerra um grupo de oficiais intelectuais, entre os quais destacavam-se o General Humberto de Alencar Castelo Branco e o Coronel Golbery do Couto e Silva, cognominado de Sorbonne, de linha conservadora e autoritária, dedicado a estudos de geopolítica e economia, e defensor de drástica intervenção dos militares na política, diante da incapacidade de a elite civil resolver os grandes problemas nacionais, segundo pregavam. Mais tarde esse grupo viria a elaborar a ideologia que deu origem ao golpe político-militar de 1964.

As Eleições Presidenciais de 1955

Às eleições de 1955, a aliança PSD-PTB lançou como candidatos a Presidente e Vice-Presidente, respectivamente, Ademar de Barros
o ex-governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, e o ex-Ministro do Trabalho de Getúlio, João Goulart, sendo os outros candidatos o General Juarez Távora, pela UDN, Ademar de Barros, pelo PSP, e Plínio Salgado, pelo PRP.

Bônus de Campanha Juarez Távora


A Carta Brandi e a República Sindicalista

A extrema direita tentou inviabilizar a candidatura de Juscelino e Jango (apelido de João Goulart), preparando um novo plano golpista, a ser executado por etapas, e publicando a famosa Carta Brandi, que tentava envolver Jango num caso de contrabando de armas da Argentina para o Brasil, visando a instalação de uma República Sindicalista, similar ao peronismo argentino.

Mesmo diante de todas as pressões, Juscelino e Jango venceram as eleições de 3 de outubro de 1955. Em meados de outubro de 1955, a UDN, sob a argumentação de que Juscelino e Jango tinham recebido cerca de 500.000 votos dos comunistas (a diferença entre JK e Juarez Távora foi exatamente 459.733 votos), entrou com um pedido de impugnação das eleições no TSE, numa luta coordenada pelo Deputado Pedro Aleixo e defendida na Câmara e no Senado por Afonso Arinos e Aliomar Baleeiro, mas que não prosperou. Nas próprias hostes udenistas existiam posições contrárias, como as de Adauto Lúcio Cardoso e José Américo de Almeida.


Fonte: Senado Federal

http://www.senado.gov.br/comunica/historia/Rep15.htm